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A cultura do absurdo

O número é assustador: quatro em cada dez homens brasileiros acreditam que os estupros ocorrem porque as mulheres não se dão o respeito e/ou usam roupas provocantes. O mais deprimente é que essa opinião é compartilhada por três em cada dez brasileiras!

Esses números inéditos – diria nefastos – saíram de uma pesquisa nacional do Fórum Brasileiro de Segurança Pública (FBSP) intitulada #ApolíciaPrecisaFalarSobreEstupro, realizada pela Datafolha. Ganhou a primeira página de quase todos os jornais brasileiros com outro dado aterrorizante: um terço da população do país culpa as mulheres pelo estupro.

Já em 2014, pesquisa realizada pelo Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada (IPEA) apontava que 26% da população brasileira concordava, total ou parcialmente, com a afirmação de que “mulheres que usam roupas que mostram o corpo merecem ser atacadas”.

Os números revelam como a cultura machista, a “cultura do estupro justificado” está impregnada na mente dos brasileiros e brasileiras como uma praga que resiste aos anos, mesmo com toda a luta, mesmo com toda resistência e indignação das mulheres.

As páginas policiais dos jornais nacionais publicaram, nesta semana, casos escabrosos de feminicídios em São Paulo, em Brasília e outras cidades que mostram como a luta da mulher ainda é grande – em um deles, um homem matou a ex-esposa na frente dos dois filhos do casal, levou-os e deixou o corpo apodrecendo.

Essa patologia masculina é social, enraizada nos modos e costumes do país, referendada por séculos de dominação machista e que somente agora – a partir da metade dos anos oitenta do século passado – começa a ser revertida, a duras penas e com centenas de milhares de vítimas de agressões infundadas, injustificadas.

O homem brasileiro ainda se sente “dono” do corpo e da vontade, desejos e opiniões da mulher. Não respeita qualquer tipo de autonomia feminina, seja no seu vestuário ou na decisão de procurar um emprego ou romper um relacionamento.

Não é à toa que 85% das mulheres brasileiras temem ser vítimas de agressão sexual, percentual que chega a 90% no Nordeste, sempre segundo a pesquisa #ApolíciaPrecisaFalarSobreEstupro. Os números de estupros no país falam por si: cerca de 50 mil a cada ano, um a cada 11 minutos.

Naturalmente, todos esses dados comprovam o que as próprias pesquisadas declaram, no estudo divulgado. Apenas 36% dos brasileiros e brasileiras acreditam que a polícia está bem preparada para lidar com agressões às mulheres.

A cultura machista no Brasil é presente em todos os rincões, perversa, exige de toda a sociedade – e principalmente do Estado – uma luta permanente para eliminarmos de vez com o que se pode encarar como verdadeira patologia social, que ameaça nosso desenvolvimento como nação civilizada.

*Solange Jurema é presidente do Secretariado Nacional da Mulher/PSDB

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