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*José Serra
Publicado no Estadão de 08/09/2011
No próximo dia 13 de setembro, fará 11 anos a Emenda Constitucional 29 (EC 29), que criou vinculações orçamentárias para a Saúde. Na Câmara, o projeto passara com facilidade, apoiado por todos; entre os senadores, o percurso foi difícil, dada a pressão contrária de muitos governadores. A emenda deu certo: de lá para cá, os recursos reais da Saúde aumentaram em termos absolutos e como fatia do PIB, embora isso se deva mais a estados e municípios do que ao governo federal. A participação do Ministério da Saúde nos gastos do setor caiu de 53% para 47% no período, aumentando os encargos dos governos estaduais e municipais.
A EC 29 previa que se votasse, até 2004, uma lei complementar que a regulamentasse, mas o governo Lula evitou o assunto, precisamente para não aumentar sua fatia nas despesas do setor. Teve, nisso, a parceria de alguns governadores. Agora, o Congresso diz que vai votá-la até o fim deste mês.
Por que foi feita a EC-29?
Para o bem ou para o mal, a Constituição de 1988 acabou ampliando e reforçando as vinculações orçamentárias diretas e indiretas , via isonomias salariais, por exemplo. Mas a Saúde ficou de fora e, num mundo orçamentário rígido, virou colchão amortecedor de crises e apertos fiscais.
Tudo piorou quando, já no governo Collor, o Finsocial, que abastecia a Saúde de recursos, foi derrubado pelo STF, abrindo uma tremenda crise, só atenuada por socorro do FAT. Na época de Itamar Franco, a fatia da Saúde nas receitas da previdência foi extinta junto com o INAMPS, de quem o Ministério da Saúde recebeu as unidades hospitalares e ambulatoriais.
Eu era ministro do Planejamento quando o titular da Saúde, Adib Jatene, tomou a iniciativa da criação da CPMF vinculada ao setor, mas já não estava lá quando ele conseguiu aprová-la em outubro de 1996. Adverti, então, que, sendo a receita prevista com a CPMF menor do que as despesas federais com Saúde, o aumento dos recursos da área não era garantido, pois outras receitas que financiavam o ministério poderiam ser redirecionadas para outros gastos sociais. E isso aconteceu.
Quando, no início de 1998, o presidente Fernando Henrique convidou-me para assumir o Ministério da Saúde, acertamos promover algum mecanismo que defendesse o setor. Por isso, no ano seguinte, fizemos um substitutivo a um projeto do deputado Carlos Mosconi, economizando, assim, prazos de tramitação. A fim de evitar as incertezas de possíveis reformas tributárias, preferimos vincular recursos ao índice do PIB nominal — a cada ano, o orçamento federal para a Saúde deveria ser reajustado, no mínimo, pela variação desse índice do ano anterior. Para os estados e municípios, a vinculação fez-se às receitas líquidas: 12% e 15%, respectivamente, a serem atingidos em cinco anos.
Diga-se que, a partir da EC 29, a CPMF e a Saúde divorciaram-se. A obrigação do governo federal passou a ser a de cobrir o financiamento mínimo do setor, independentemente das origens dos recursos. Por isso, o sumiço da CPMF em 2008 não retirou recursos da Saúde. No final de 2007, a fim de vencer a oposição do Senado à renovação do tributo, o governo Lula acenou, na undécima hora, com a possibilidade de destinar a receita da CPMF à Saúde. Não deu certo.
Se fosse verdadeira a intenção de reforçar o setor, em vez tentar renovar a CPMF, o governo Lula poderia ter aprovado rapidamente o projeto de lei complementar já citado, contendo um tributo só da Saúde. Ou poderia ter destinado a ela parte do Imposto sobre Operações Financeiras, cujas alíquotas foram aumentadas, a fim de compensar a perda da CPMF. A receita do IOF subiu quatro vezes de 2007 até 2011, quando será de R$ 30 bilhões. Um terço disso teria elevado bastante os recursos federais para a Saúde. Mas essa não foi a prioridade de Lula e do PT, nem antes nem depois. Desde 2002, as despesas federais na área cresceram abaixo das receitas correntes.
O projeto de lei que está para ser votado na Câmara de Deputados tem várias coisas positivas, entre elas, a que impede os governos de contabilizarem no item Saúde gastos de segurança, alimentação, lixo, asfalto, etc. Devido esse expediente fraudulento, metade dos estados, hoje, não cumpre a EC-29. Mas dois dispositivos financeiros merecem reparos. O projeto retira da base de cálculo da despesa mínima estadual para a Saúde os recursos do FUNDEB, da Educação. Isso cortaria em R$ 5 bilhões os gastos obrigatórios dos estados no setor! Paralelamente, cria-se a Contribuição Social para a Saúde, uma CPMF de 0,1%, que renderia uns 14 bilhões de reais/ano. Mas, desse total, 20% seriam descontados por conta da DRU. Assim, metade da CSS serviria aos tesouros nacional e estaduais, a pretexto da Saúde!
Note-se que, desde 2002, a carga tributária no Brasil aumentou em torno de três pontos percentuais do PIB; o gasto federal aumentou em 80% reais. Ao longo de 2011, a receita tributária federal cresceu três vezes mais do que o PIB. Será que as distorções de prioridades, o descaso sobre eficiência e redução de custos e os desperdícios e desvios têm sempre de ser compensados com aumento ainda maior de tributos?
A Saúde precisa, sim, de mais recursos federais, e eles tinham de ter saído e devem sair das receitas existentes. Dentro do próprio setor há um mundo de possibilidades de redefinição de custos e prioridades, questões que saíram da sua agenda desde 2003.
E o que dizer sobre a qualidade dos gastos federais? Dois pequenos exemplos: cerca de R$ 700 milhões poderiam ser destinados à Saúde com o simples cancelamento do projeto executivo do trem-bala, essa grande alucinação ferroviária; outro tanto poderia ser obtido cortando despesas com boa parte das ONGs e festas municipais, no âmbito do Turismo, item escabroso em desvio de recursos. E pode-se permitir, sim, que iguais montantes virem emendas para a Saúde, de forma criteriosa e controlada. Em suma, trata-se de governar com prioridades claras, determinação e, é claro!, com rumos, sabendo-se o que ser quer.
Caro José Serra. Você é homem sério, comprometido com o Brasil e com os brasileiros e sobretudo pensa e age como Estadista. As ações politicias e administrativas que desempenhou sempre as fez com muita determinação e visando o bem comum, isto é, agindo sempre com “espirito público”.
É do DNA republicano a alternancia no poder, e nosso caráter politico, forjado na luta diaria, no confronto e debates de idéias e ideais civilizados, nos impoe a aceitação das regras do jogo politico. Assistimos, todavia uma luta sem tréguas, desrespeito às leis, estretagemas de todas as naturezas imagináveis e inimaginageis visando unicamente a manutenção do poder pelo pt. Isto nao é bom para o Brasil e para os brasileiros. Continuemos firmes na luta politica eleitoral e partidária. Firme José Serra. Vamos em frente.
Se me perguntassem quais os bens mais preciosos na vida de um cidadão; não teria dúvidas em responder: Saúde e Educação! Na última década, “governada pelo minúsculo pt”, estes dois valiosíssimos bens, estão ficando cada dia mais distante do povo brasileiro. No caso da saúde, essa distância, muitas vezes tem se transformado em sofrimento e lágrimas. Quando não na perda irreparável de vidas! É o retrato do abandono e da humilhação, no pior momento de uma vida! O governo insiste em dizer que falta dinheiro pra saúde. No entanto se olharmos para onde está indo o dinheiro público, no que que ele está sendo gasto e quanto está sendo pago; chegamos a conclusão óbvia! Não falta dinheiro. O que falta é COMPETÊNCIA e HONESTIDADE! Competência pra gerenciar o sistema e Honestidade na aplicação dos recursos.
Saúde SERRA!!!
Prezado Serra, se você computasse nos seus exemplos, a redução da quantidade injustificável de ministérios criados nos governos petistas, com gastos cada vez mais astronômicos, teríamos o problema da saúde inteiramente resolvido. Mas quando se fala de Brasil, se fala de uma população majoritariamente pouco instruída e muito desinteressada. Uma população que ainda vende seu voto ou desperdiça-o com palhaços. Logo, você, ou qualquer outro político de oposição, não conseguirá praticar o que é certo, de um ponto de vista simplesmente racional, porque não chegará à presidência com o mesmo discurso das últimas tentativas. É um discurso inacessível aos eleitores que decidem a eleição. Com o discurso acessível e o apoio do principal demagogo do PT, uma desconhecida sem quaisquer serviços prestados ao Brasil, tornou-se “presidenta”… Enquanto isso nos resta assistir o Brasil cavando um buraco, mais fundo a cada dia…