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A farsa anunciada

“É muito mais fácil corromper do que persuadir.” – Sócrates

 

Para os brasileiros que enxergam além da disputa política, o Brasil vive um momento triste, talvez o pior desde a redemocratização. Não bastasse a crise econômica, o desemprego que castiga famílias, a inflação resistente e o traumático processo de deposição da ex-presidente Dilma Rousseff (que, aliás, afundou a economia nacional), nesta semana fomos brindados com a formalização da denúncia de corrupção contra o ex-presidente Luís Inácio Lula da Silva.

Mais que ser acusado por corrupção, Lula é considerado pelos promotores da Operação Lava Jato como a liderança máxima da quadrilha que saqueou o país a partir de esquemas escusos na Petrobras, fundos de pensão, no BNDES, entre outras instâncias federais.

Que pese o fato de pertencermos a partidos antagônicos, o fato de um ex-presidente da República ser acusado de práticas de corrupção como as que pesam sobre Lula é motivo de tristeza não pela pessoa em si, mas pelo que representa institucionalmente.

Numa democracia, o presidente é a representação máxima de poder e, como tal, deveria refletir os valores sociais e éticos mais profundos de uma sociedade e ter como princípio básico a subordinação às leis e à Constituição. O fato de ter deixado o cargo não o exime, em tese, destas responsabilidades.

Lula, movido por muito marketing, representou a esperança de milhões de brasileiros. Herdou de Fernando Henrique Cardoso um país com inflação sobre controle e rumo na economia, projetos sociais já iniciados e planejados para o futuro e conduziu as políticas econômica e social com relativo acerto enquanto o mundo navegava nas águas tranquilas da bonança econômica.

Com os olhos voltados exclusivamente para o centro de seu poder, Lula perdeu talvez a melhor oportunidade que tivemos de fazer as reformas necessárias para que o Brasil continuasse seu fluxo de crescimento com segurança. Ao invés de usar seu prestígio para convencer o Congresso Nacional e a sociedade dos projetos de futuro, utilizou o suposto “trono” para enriquecer os seus e manter aliados satisfeitos e maleáveis às suas vontades políticas, enquanto o povo, hipnotizado pelo “showman” vivia dias de bonança com financiamentos de longo prazo e consumo desenfreado.

O final desta trágica história conhecemos na pele. Elegeu-se um “poste” no lugar onde deveria haver um governante, reeleito quatro anos depois sob o manto de mentiras e à sombra da pior crise econômica da nossa história recente.

Numa democracia, a existência de forças antagônicas se faz não apenas necessária, mas salutar. É preciso haver divergência, é preciso haver debate, é preciso pluralidade de pensamento. Mas, mais que tudo isso, é necessário respeito. Respeito às leis, aos adversários políticos e, especial e essencialmente, ao povo. Infelizmente para a jovem democracia brasileira, o PT e Lula, por soberba ou conveniência, esqueceram-se desses valores.

Segundo Lula, as denúncias do Ministério Público Federal são uma farsa e agridem “a inteligência dos cidadãos brasileiros”. Depois do mensalão, do petrolão, do pensalão, de sítios e triplex, talvez o brasileiro já esteja convencido que a farsa de fato existe, mas não está com os promotores, e que agredida nossa inteligência vem sendo há anos pelo teatro do “genial político” enganado, pelos discursos roucos e pelas lágrimas daqueles que há tempos parecem apenas ter rido nas costas de todos nós.

*Pedro Tobias é médico, deputado estadual e presidente estadual do PSDB-SP

 

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