Cesar Gontijo*
Editorial
Diversas abordagens e opiniões sobre o fim da ditadura no Egito deixaram de ser linhas paralelas para encontrarem-se no mesmo consenso: foi o povo que pôs abaixo o governo Hosni Mubarak, encerrando 30 anos de duro regime autoritário.
Depois da euforia do movimento, cabe a todos nós uma reflexão sobre a carência de líderes no mundo. Imagine só que no Egito há numerosos partidos políticos, organizações, movimentos sociais e sindicatos, mas foi o povo que se rebelou e se organizou pela internet e saiu nas ruas sem data nem hora para voltar pra casa; apenas com a ideia fixa de virar uma página na história do Egito.
A tentativa de suicídio do tunisiano Mohammed Bouazizi, em protesto à repressão policial, aconteceu em dezembro do ano passado e parece ter sido o estopim para desencadear a indignação e frustração em massa no mundo árabe. Na verdade, essa atitude desesperada fez eclodir o descontentamento geral da população quanto à desigualdade social, desemprego, pobreza, corrupção, violência e opressão sofridos há três décadas. Nos dias seguintes três egípcios repercutiram o protesto e um deles morreu.
Após esses acontecimentos começaram a surgir líderes políticos de oposição ao governo e “apoiadores” do movimento popular, mas o mundo foi testemunha de que o ato foi organizado e coordenado pelo povo e os novos líderes que emergiram dessa conquista.
Num mundo globalizado toda revolução, mesmo que em terras distantes, reflete em nossa realidade. Aqui no Brasil não vivemos numa ditadura e passamos por uma fase otimista, mas o que me chamou a atenção em todos esses acontecimentos é que em um estalar de dedos as coisas podem mudar, pois a capacidade das pessoas de se indignar e protestar pode explodir a qualquer momento. Principalmente pelo fato do Brasil ser um país de muita desigualdade.
O poder de união das pessoas é incontestável, o que falta hoje, são líderes. Vivemos um período em que crescem as representações populares como ONGs de direitos humanos, sindicatos e afins, e com certeza novas lideranças surgem desses movimentos e oxigenam a política brasileira e a sociedade.
O brasileiro é um povo pacífico, mas que como em outros países, tem capacidade e força de indignar-se com a corrupção e falta de oportunidade. No Egito foi assim, na Líbia, quem dirá um dia em Cuba e porque não no Brasil? Já fomos às ruas e conquistamos a democracia, mas o povo a quer de fato, abrangente e eficaz para melhorar a vida de todos.
A força popular é mesmo poderosa, seja qual for a etnia, continente e cultura. Ela pode brotar de um ato isolado, ou de anos de descontentamento. É uma chama pronta para inflamar.