Se o governo federal ainda tem dúvidas da gravidade da crise e acha que as medidas que anunciou são suficientes e eficazes, e, assim, já bastam, vale a pena dar uma passada de olhos nos jornais desta semana. Seis meses depois do agravamento da crise financeira, o saldo do agronegócio é de insolvência de quatro usinas de açúcar e etanol, de seis frigoríficos e fechamento de cooperativas e desemprego.
Segundo a Abiec (Associação Brasileira das Indústrias Exportadoras de Carne), o número de desempregados nas empresas que pediram recuperação judicial alcançou 52 mil e, caso não sejam tomadas medidas para atenuar a crise, o desemprego pode passar de 100 mil pessoas, considerando-se que, para cada emprego formal criado em um frigorífico, são gerados mais dois empregos fora.
No setor sucroalcooleiro, que marca fortemente a economia da região de Ribeirão Preto, já houve 500 demissões, segundo noticiado pela imprensa, e 3.000 funcionários estão sem receber. Em Descalvado, a Coperfrango, a maior cooperativa avícola do Estado, fechou as portas no início do mês porque não conseguiu crédito para pagar seus funcionários e fornecedores. A decisão afeta mais de 1.000 empregos diretos e outros 4.000 indiretos.
E o que as empresas alegam” Que os recursos anunciados pelo governo para irrigar o sistema financeiro estão chegando aos poucos e a um custo muito elevado. O que se percebe é que o governo demorou para acreditar que a crise viria. E, não crendo, não se preocupou em formular medidas preventivas, que resguardassem os setores produtivos.
A escassez de crédito vitimou todas as economias do mundo, mas o governo brasileiro esperou a água bater no nariz. E a “marolinha” acabou se transformando nessa onda que já vitimou e que pode vitimar muito mais empresas e empregos por causa da lerdeza e da falta de visão do governo.
Duarte Nogueira é vice-líder do PSDB na Câmara dos Deputados. Foi secretário de Agricultura de São Paulo de 2003 a 2006. dep.duartenogueira@camara.gov.br
