
*Ricardo Buso
Hoje em dia todos que acompanham os noticiários têm idéia da grande encrenca econômica em que o mundo todo está envolvido. É a União Européia com sérios problemas fiscais em boa parte de seus países-membros; Estados Unidos, como jamais imaginado, sob ameaça de não conseguir honrar com parte de sua astronômica dívida pública; Japão que precisa se recuperar também economicamente de uma catástrofe; países em desenvolvimento preocupados com inflação; entre muitos outros problemas que há tempos vêm insistindo em desafiar o capitalismo global.
Também nem vem ao caso, nesse momento, “filosofar” sobre as causas que deflagraram tais acontecimentos.
Em face desse cenário brevemente exposto, começamos a compreender porque a economia mundial se comporta quase que de forma indomável, com a aversão ao risco dominando os mercados, preços de commodities, inclusive alimentos, disparando internacionalmente, reserva de valores sendo buscada em ativos ditos seguros lá num passado bem distante e com o pior dos dissensos econômicos, conter inflação e ressuscitar a economia.
E no Brasil? Como vão as coisas? Por aqui, ao contrário do pregado pela maciça rede de propaganda do governo, encontramo-nos numa verdadeira “sinuca de bico”, vez que não conseguimos mais conciliar crescimento econômico e inflação em níveis suportáveis e sustentáveis. Para tentarmos crescerem algo próximo a 4% no ano, precisaremos suportar taxa básica de juros de 12,50% ao ano e expor a população mais necessitada a um nível de inflação que passará muito longe da meta proposta pela Autoridade Monetária, com reais chances de extrapolar até a barbeiragem dos 2 pontos percentuais acima da chamada meta, que significaria 6,5% ao ano.
Ora, naturalmente, não podemos negar que parte da causa desses problemas advém das grandes incertezas mundiais, que acima comentamos, porém, a outra parte se deve à lição de casa mal feita nos últimos anos pelo nosso governo.
Mesmo que descartando da análise a inércia no ataque aos problemas crônicos e estruturais do país, a chance desperdiçada em trabalhar com a forte liquidez mundial dos últimos anos conjugada à disciplina fiscal faz hoje toda falta do mundo à economia brasileira.
Imaginemos se no auge da crise econômica global tivéssemos, de fato, estimulado a economia com as verdadeiras medidas contra cíclicas, de investimento, de desoneração e fomento à produção, de expansão logística, de aprimoramento da matriz energética, etc, ao invés do populismo com inchaço da máquina pública e gastança desenfreada.
Hoje, provavelmente, colheríamos frutos desses investimentos, que atenderiam à forte demanda doméstica, com capacidade de ampliação, sem precisar extrapolar nos juros, sem precisar apagar incêndios do câmbio super valorizado (para agonia dos exportadores) e sem criar cenários de tantas incertezas.
Boa sinalização das expectativas para a economia doméstica pode ser captada pelo movimento de nossa Bolsa de Valores, que esse ano já apresenta queda de quase 15% em seu principal indicador, o Ibovespa.
Também, sob cenário mais estável, seria possível gerir a economia com os pés no chão, podendo evitar, por exemplo, ingerências equivocadas ao ponto de comprometer o abastecimento de gasolina e até de etanol do país.
Por fim, o que dizer de um governo que, ao mesmo tempo que se diz tão provedor das necessidades dos mais carentes, desperdiça montanhas de recursos públicos em manobras no cassino de mercado com o tal “Fundo Soberano” e com a acumulação de reservas internacionais?