O brasileiro está sofrendo com o pior tipo de inflação: a da comida que vai à mesa das famílias. O preço dos alimentos está em disparada, agravando ainda mais as agruras decorrentes da recessão e do desemprego na vida das pessoas.
Em julho, o IPCA chegou a 0,52%, segundo o IBGE. Quase 70% disso deveu-se à alta dos preços dos alimentos, que ficaram 1,3% mais caros no mês. A escalada deriva principalmente de problemas climáticos, que nos últimos meses reduziram a safra agrícola com chuvas em excesso na região Sul e seca no Centro-Oeste.
Há casos escabrosos. O feijão carioca ficou 150% mais caro desde janeiro, o leite, 49% e o arroz, 11%. O feijão preto subiu 41% só em julho e o leite longa vida, quase 18%. No geral, os alimentos encareceram 8,8% neste ano e 13,6% nos últimos 12 meses.
Com a alta também dos grãos, que servem de ração a rebanhos, o próximo vilão tende a ser as carnes, conforme prevê ao Globo o ministro da Agricultura, para quem há uma “inflação represada” prestes a desaguar na mesa dos brasileiros. Algum alento, em contrapartida, pode vir da baixa das cotações internacionais de commodities.
A inflação brasileira mantém-se alta a despeito de o país viver a pior recessão de sua história. É caso único no mundo. Nas crises econômicas, os preços tendem a cair. No Brasil desajustado por anos de descalabro econômico petista, acontece o inverso: carestia e depressão.
Os preços têm se mantido altos por ondas sucessivas de aumentos. Até uns dois anos atrás, eram os serviços, estimulados pelo aumento de renda, que sustentavam a alta ? ainda expressiva, em torno de 7% anuais, atualmente. Depois veio o choque tarifário patrocinado pelo governo Dilma, que elevou a energia elétrica, por exemplo, em mais de 70% em dois anos. Agora é a vez dos alimentos, o que torna a carestia ainda mais dolorosa.
Os preços em escalada mantêm a política monetária sob pressão, ou seja, dificultam a redução da taxa básica de juros e, desta maneira, comprimem o espaço para que a recuperação da economia se dê. Inflação alta é igual a crédito caro, custos em elevação e crescimento baixo.
A inflação acumulada nos primeiros sete meses de 2016 (4,96%) já supera a meta prevista para todo este ano. A previsão é de que o índice oficial encerre o ano ao redor de 7%, acima, portanto, até do teto de tolerância estipulado. Neste sentido, o Banco Central não pode esmorecer em sua política de combate à alta de preços.
Precisará, contudo, de um apoio que não teve durante os anos de governo do PT e de que ainda carece com mais nitidez na atual gestão: uma política vigorosa de controle dos gastos públicos. A derrocada da hiperinflação é uma das principais conquistas da sociedade brasileira na história recente. Não pode, jamais, ser posta em risco.