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A privatização petista

Alberto Goldman

O PT venceu tres eleições presidenciais seguidas. Um dos instrumentos mais importantes para a sua vitória foi criar um sentimento no país contrário às privatizações efetuadas, como se elas fossem contra o interesse público e contra o interesse nacional, além de que teriam sido envolvidas em processos de corrupção. Após anos, nenhuma falcatrua foi constatada, ninguém foi condenado apesar da ação do Ministério Público, da Polícia Federal, dos órgãos de contrôle e do próprio PT e de seu governo.  Mas o clima criado lhes serviu para assumir o poder e mantê-lo.

Na realidade, sempre foram grandes adeptos da privatização de outro tipo: privatizaram o próprio Estado brasileiro, colocado hoje a serviço dos partidos de sustentação do governo federal, das corporações trabalhistas e dos grandes interesses econômicos. Além disso realizaram, timidamente, várias operações de privatização de bens públicos e dos seus serviços prestados.

Agora, com 8 anos de atraso, estão privatizando a operação aeroportuária. Sem qualquer remorso por tudo o que disseram e fizeram, sem quaisquer escrúpulos, sem qualquer auto crítica, assumiram que não teriam a capacidade financeira, nem a capacidade de gestão para atender o enorme crescimento da demanda no setor aéreo.  Aliás, como lá atrás, na década de 90, concluimos o mesmo em relação ao sistema de telecomunicações.

Mas é preciso acompanhar o andar da carruagem.  O leilão se deu e já existem empresas vencedoras.  Vamos, com o tempo, conhecer melhor o edital da licitação e o perfil das empresas.

É uma privatização sui-generis.  Além da ampla e majoritária participação dos fundos de pensão das empresas estatais federais e do financiamento de 80% do BNDES, não sabemos ainda sobre o que incide esse percentual,  a estatal Infraero tem 49% do capital dos grupos que se constituiram.  Os consórcios vencedores não são constituídos das melhores operadoras do setor, aquelas com maior experiência, e elas tem uma pequena participação no capital da nova empresa ( o consórcio ).  As empresas construtoras que fazem parte dos mesmos consórcios tem também uma pequena participação, certamente na justa medida dos lucros que terão nas atividades de construção civil de ampliação e reforma dos aeroportos.  Uma delas, vencedora em Viracopos, havia também vencido uma licitação de rodovias em São Paulo e não conseguiu assinar o contrato pois não conseguiu cumprir as exigências de garantias.

Falta, de verdade, saber onde, como e quanto será o capital privado aplicado. Não parece muito.
O tempo reponderá muitas questões mas, de qualquer forma, devemos saudar o passo dado pelo governo federal. Tardio, tímido, vacilante, envergonhado, em formato duvidoso, mas foi…

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