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A vacina do Brasil

Por Dimas Covas

Otimismo. Essa é a palavra que define nosso sentimento sobre a realização de uma campanha de vacinação em massa contra a Covid-19 para os brasileiros em um futuro breve, menos de um ano após a primeira infecção registrada no país. Trabalhamos para que isso ocorra o quanto antes, para inaugurar uma nova fase de enfrentamento à transmissão do novo coronavírus e salvar vidas.

O Instituto Butantan, um dos maiores centros de pesquisa e desenvolvimento de imunobiológicos do mundo, ligado ao governo de São Paulo, vem liderando no Brasil a fase 3 de testes em humanos de vacina desenvolvida pelo laboratório privado chinês Sinovac. Cerca de 12 mil doses já foram aplicadas em voluntários com idades entre 18 e 59 anos.

Os resultados até aqui já permitem afirmar que a vacina é a mais segura entre as que estão em etapa final de estudos clínicos no país. Do total de voluntários que receberam vacina ou placebo, apenas 35% apresentaram algum tipo de reação adversa, mas todas elas classificadas como leves, como febrícula ou dor no local da aplicação. Nenhuma reação grave foi registrada.

Outros países têm demonstrado interesse na vacina do Butantan. Pelo menos sete entraram em contato com o instituto com a intenção de receber o imunobiológico. Terceira maior democracia do mundo, a Indonésia se prepara para iniciar uma campanha de vacinação de sua população com o imunobiológico desenvolvido pela Sinovac.

É importante reforçar que a vacina do Butantan contra Covid-19 –a partir do vírus inativado– usa tecnologia muito similar às que o instituto já utiliza para a produção de outras vacinas em seu parque fabril, o que diminui riscos na operação, assegurando uma adaptação mais fácil e rápida.

Até dezembro, o Butantan irá produzir 40 milhões de doses de vacinas e receberá 6 milhões de doses já prontas para uso; outras 15 milhões serão produzidas até fevereiro e mais 44 milhões até maio de 2021. Paralelamente o instituto se prepara para iniciar a produção integral do imunizante nacional em fábrica específica até o segundo semestre de 2021.

Todo esse esforço, que está sendo realizado em tempo recorde, tem como objetivo oferecer a vacina para o Programa Nacional de Imunizações (PNI) do Ministério da Saúde, do qual o Instituto Butantan é parceiro há mais de 30 anos.

Atualmente o Butantan fornece para o Ministério da Saúde vacinas contra difteria, tétano e coqueluche, HPV, gripe, raiva humana e as hepatites A e B, além de soros hiperimunes. Esses imunobiológicos são enviados pelo PNI para os estados e municípios brasileiros, abastecendo os postos de saúde e protegendo a população.

O mesmo se pretende em relação à vacina do Butantan contra o novo coronavírus. Por isso, no último dia 20 de outubro, depois de uma reunião virtual com governadores de estado, o ministro da Saúde, Eduardo Pazuello, assinou um protocolo de intenções para adquirir do instituto as 46 milhões de doses que estarão disponíveis ainda neste ano.

Tratou-se, ali, de uma decisão técnica, fundamentada na Ciência e na Medicina, e livre de qualquer viés político-partidário, diante dos resultados promissores relativos aos testes clínicos do imunobiológico no país. O Ministério da Saúde entendeu a necessidade de ampliar a oferta de vacinas contra a Covid-19 para a população, e para tanto buscou seu principal parceiro na área de imunizações, o Butantan, que tem se dedicado de forma incansável em proporcionar uma vacina segura e eficaz aos brasileiros.

Evidentemente o novo imunizante só estará disponível para vacinação no país após o seu devido registro pela Anvisa. Esperamos, assim, sobriedade, bom senso e espírito republicano de todos – governantes e autoridades de saúde – para que logo possamos proteger os cidadãos contra este terrível vírus, responsável pela pior pandemia dos últimos cem anos no mundo. A vacina do Butantan é a vacina do Brasil.

Cientista e professor da USP, é diretor do Instituto Butantan

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