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Adeus, Professor Paulo Renato!

Em artigo, Raul Christiano diz que o ex-ministro fez história

Estou chocado com a morte de Paulo Renato Costa Souza, um homem que aprendi a admirar quando passei a conhecer a sua capacidade de trabalho e dedicação na Secretaria de Estado da Educação de São Paulo, durante o governo de Franco Montoro, em 1985. Dez anos mais tarde, no governo Fernando Henrique Cardoso, tive a honra de fazer parte da sua equipe no Ministério da Educação em Brasília. No começo da madrugada deste domingo (26), fui avisado pela também amiga Gilda Portugal Gouvea, que Paulo Renato passava o feriado em um hotel no município de São Roque e teve um infarto fulminante.

Registrei o meu primeiro impacto de tristeza no twitter. Repassei a informação por telefone a colegas da nossa equipe de trabalho dos últimos 25 anos. Começo a ler as repercussões na internet e na Globo News. Mas confesso que até agora minha ficha não caiu. Relembro a morte do ex-prefeito de Campinas e também amigo de Paulo Renato, José Roberto Magalhães Teixeira (Grama), em 1996. Ambos eram muito ligados, mas quando Grama morreu, depois de enfrentar doença que fragilizava o seu organismo, Paulo Renato me pediu que o ajudasse a escrever um artigo sobre a importância dele para Campinas e para o nosso campo de atuação política, que seria publicado na Folha de São Paulo. Estou tão catatônico quanto daquela vez. Não vamos mais comemorar juntos o nosso aniversário no dia 10 de setembro (ele completaria 66 anos em 2011), meu sempre chefe, meu grande amigo.

Acompanho os movimentos dessa madrugada longa, estancando a minha emoção com a leitura e com essa tentativa de registrar a minha angústia. Os anos passam em minha mente como numa retrospectiva. Quando Paulo Renato assumiu o MEC, no primeiro dia do governo FHC, permanecendo no cargo até a despedida do presidente em janeiro de 2003, fez história, como o ministro da Educação mais longevo desde Gustavo Capanema, na Era Vargas. Paulo Renato ocupou o segundo lugar em permanência a frente do MEC em toda a história do Brasil. Mas nunca antes na história deste país houve um ministro da Educação que promovesse mais mudanças do que Paulo Renato.

Gaúcho, economista e professor universitário na Unicamp, Paulo Renato foi catapultado para transformar a coisa pública durante o governo restaurador de São Paulo (Franco Montoro). Nesse período assessorou José Serra na Secretaria de Estado do Planejamento, dividindo sala com Barjas Negri (atual prefeito de Piracicaba) e Raul do Valle (atual assessor da secretaria de recursos hídricos do Estado). Depois assumiu a presidência da Prodesp (Companhia Estadual de Processamento de Dados), a Secretaria da Educação e a reitoria da Unicamp.

Quadro técnico de primeira foi para Washington, responder pela Vice-Presidência de Operações do BID (Banco Interamericano para o Desenvolvimento), de onde retornou para coordenar o programa de governo do então candidato a presidente da República, FHC. No MEC, comandou a Educação como uma urgência do Brasil, priorizando o ensino fundamental, com a criação do Fundef (Fundo de Desenvolvimento da Educação e Valorização do Magistério), a nova LDB (Diretrizes e Bases da Educação), os Parâmetros Curriculares Nacionais, o Dinheiro Direto na Escola, a Bolsa Escola Federal.

Não foi fácil lidar com as corporações universitárias, que ele atendeu com um amplo programa de equipamentos e modernização do ensino superior, com incentivo à docência de mestres e doutores que sempre usufruíram dos programas de bolsas da Capes e do CNPq, além criar a implantar um programa nacional de avaliação das universidades públicas e privadas. Cada peça mexida na engrenagem da educação nacional gerava tensão, incompreensão política, reacionarismo principalmente do PT que votava contra todas as iniciativas do MEC no Congresso Nacional.

Paulo Renato entra para a história como o ministro que universalizou o acesso das crianças na escola, encerrando o governo FHC com 98% delas matriculadas e com material didático compatível com as suas idades-séries de aprendizado. Paulo Renato era o meu candidato preferido a presidente da República nas eleições de 2002, mas ele não teve os apoios necessários dentro e fora do PSDB e do próprio governo. Pensou em eleições somente em 2006, quando se candidatou a deputado federal pelo PSDB e se elegeu com mais de 120 mil votos. No Congresso Nacional, a sua integridade pública e autenticidade política falaram mais alto, principalmente quando revelou a todos nós o descompromisso da maioria do parlamento brasileiro com a Educação. Decepcionado, deixou a Câmara dos Deputados para assumir novamente a Secretaria de Estado da Educação de São Paulo, no governo de José Serra, com ânimo de não voltar mais ao mandato ou de disputar a reeleição.

Nos últimos tempos, Paulo Renato havia se afastado das atividades governamentais e partidárias. Nossa última conversa sobre o tema me desanimou e angustiou. Ele disse que radicalizaria na sua dedicação às consultorias privadas e me pediu para dizer que não militaria mais no partido, nada especificamente contra o PSDB, mas porque já não acreditava tanto que era possível realizar mudanças somente pelo caminho da política, dos partidos, do parlamento.

Agora, Paulo Renato morre, sem se despedir. Sei que a história fará justiça aos seus feitos! Descanse em paz, Paulo Renato!

Raul Christiano, 52 anos, jornalista, escritor, poeta e professor universitário. Foi Secretário Particular e Assessor Especial do Ministro da Educação (Paulo Renato Souza). Dirigiu o Programa Bolsa Escola Federal (Governo FHC), Superintendência de Comunicação da CDHU (Governo Geraldo Alckmin) e Superintendência de Comunicação da SABESP (Governo José Serra). Coordenador de Comunicação da Secretaria dos Transportes Metropolitanos.

FONTE:Agência Tucana

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