O deputado William Dib (SP) criticou o descompromisso da presidente Dilma no combate ao tráfico de drogas nas fronteiras brasileiras. Promessa de campanha repetida várias vezes por Dilma em 2010, o avião não tripulado, que seria a principal arma contra o problema, não voa desde janeiro deste ano por falta de contrato de manutenção. Enquanto isso, armas e drogas continuam entrando com facilidade pelas divisas.
“Mais uma vez o governo do PT mostra a sua incompetência. Como se pode comprar um equipamento por esse valor e não ter feito, ao mesmo tempo, o contrato de manutenção?”, questionou Dib. Conforme lembrou o tucano, o projeto já sofreu com falta de combustível. Na opinião dele, o descaso demonstra a inaptidão e a falta de preocupação do governo no combate às drogas.
De acordo com a reportagem da “Folha de S. Paulo”, uma cláusula da compra do sistema, feita junto à empresa israelense IAI (Israel Aerospace Industries), impede a aeronave de voar sem o contrato de manutenção. A manutenção não é só para eventuais reparos do avião em caso de acidente: ela inclui a checagem do equipamento, altamente sofisticado, antes de toda decolagem.
Os Vants (veículos aéreos não tripulados) são aeronaves controladas remotamente, a partir de uma base em terra. O sistema, que fotografa traficantes a 9 mil metros de distância, consumiu aproximadamente R$ 80 milhões, segundo a Polícia Federal. Inclui uma estação terrestre, equipamentos ópticos que registram e transmitem imagens para uma base terrestre e um segundo Vant que ainda não chegou ao Brasil.
Dib lamenta o fato de uma única estação ter saído do papel, em São Miguel do Iguaçu (PR), ao lado de Foz de Iguaçu, na tríplice fronteira. Foi inaugurada em novembro de 2011 pelo ministro da Justiça, José Eduardo Cardozo.
Reportagem exibida no “Jornal Nacional” em 2011 mostra a vulnerabilidade das divisas do Brasil, o que explicaria a grande quantidade de armas e drogas contrabandeadas. Em uma viagem de 45 dias, os repórteres encontraram fatos preocupantes.
A equipe flagrou R$ 1 milhão em cigarros paraguaios contrabandeados por carreta e até madeira recheada com 900 quilos de cocaína boliviana. As apreensões foram feitas em estradas, quilômetros depois de contrabandistas e traficantes já terem ultrapassado as fronteiras brasileiras. Os repórteres mostraram ainda o comércio ilegal de armas, a oferta de drogas, o contrabando nos rios e até a falsificação de selos do Inmetro.
A reportagem mostrou também a atuação de criminosos que levam rebanhos e até crianças do Brasil para países vizinhos; e ainda a dificuldade que as polícias e o Exército enfrentam pela falta de recursos e de estrutura para operar em estradas, no campo e na floresta.
Contrato em aberto
→ O contrato de manutenção ainda não foi finalizado, segundo a polícia, porque está em fase de discussão técnica. A manutenção será feita por uma empresa brasileira, que receberá treinamento do fabricante israelense.
→ No primeiro ano do governo Dilma, a PF anunciou que o projeto inteiro estava orçado em R$ 655 milhões. O pacote incluía 14 Vants e quatro estações terrestres: no Paraná, em Brasília, em Rondônia e no Amazonas. O conjunto seria suficiente para patrulhar os 15.791 quilômetros da fronteira terrestre brasileira, de acordo com o projeto original.