O presidente do Diretório Municipal do PSDB de São Paulo, José Henrique Reis Lobo (foto), oficializou na noite desta segunda-feira a pré-candidatura do ex-governador Geraldo Alckmin à prefeitura da capital paulista.
Confira a íntegra do discurso do presidente José Henrique dos Reis Lobo, em reunião que aconteceu na sede do Diretório Municipal de São Paulo:
Companheiros…
Desde que nós assumimos a Presidência do PSDB Municipal, cargo que eu já me cansei de dizer, jamais pleiteei e que, na verdade, acabou me sendo imposto pelas circunstâncias que todos conhecem, eu tenho reiterado que procuraria fazer da nossa gestão a mais democrática que esse partido jamais conheceu.
Exatamente por isso, nesse período nós fizemos cerca de 40 reuniões com as várias instâncias do partido, ai incluindo a própria Executiva, o Diretório, os Presidentes dos Diretórios Zonais, os Segmentos e os Núcleos do Partido, e essa reuniões foram marcadas por duas características: primeiro, ao invés de chamar os Diretórios para se encontrarem conosco na sede do partido, nós fomos até eles, visitá-los nas suas próprias regiões, o que era um sinal de apreço e de respeito pelos nossos companheiros dos vários lugares de São Paulo.
Segundo, nessas reuniões, entrou e falou quem quis, desde os próprios Presidentes, até membros dos Diretórios, militantes e até simples simpatizantes, que jamais tiveram a sua participação impedida, podendo se expressar absolutamente à vontade, sem qualquer pauta ou qualquer censura, porque o nosso objetivo era mesmo o de ouvir, para que pudéssemos poder entender um pouco qual era o pensamento das nossas bases a respeito dos vários temas que as afligiam e qual era o seu sentimento a respeito dos assuntos mais cruciais com que o partido se haveria de se defrontar nesse ano de eleições municipais.
Essas reuniões acabaram sendo um grande sucesso, o que foi demonstrado pela presença maciça de companheiros nossos, alguns dos quais participaram não só das reuniões em suas regiões, mas, sabendo do espírito liberal dessa gestão, muitas vezes deslocaram-se vários quilômetros para participar de reuniões realizadas em locais muitos diferentes dos seus.
Nessas ocasiões, ouvimos de tudo: elogios e críticas, mas acho que jamais se aprofundou tanto o processo de discussão e, o que é mais importante, a democracia interna do partido quanto nesse período que nos foi dado presidi-lo.
Todo mundo sabe, nessa sala e fora dela, que ninguém mais do que nós se esforçou tanto para que PSDB e DEM tivessem uma candidatura única a Prefeito de São Paulo. Nunca vi, na verdade, o Prefeito Gilberto Kassab como nosso inimigo e nem sequer como nosso adversário nas eleições para a Prefeitura dessa cidade.
Ao contrário, tinha-o e continuo tendo-o como um parceiro que, assumindo a Prefeitura pela eleição do então Prefeito José Serra para Governador do Estado de São Paulo, jamais teve qualquer tipo de atitude que o incompatibilizasse com o PSDB, com quem sempre teve um comportamento absolutamente correto, governando, inclusive, com pessoas da melhor qualificação recrutadas exatamente nos quadros do nosso partido.
Apesar disso, sempre assegurei às bases desse partido que a sua vontade, apurada nas reuniões que fizemos, seria respeitada e que não seria eu quem afrontaria essa vontade, não só por força do meu próprio espírito partidário, mas também porque laços de uma antiga e sólida amizade me prendiam ao nome que o PSDB gostaria de ver como candidato à Prefeito da Capital. Não obstante tudo isso, obstinei-me em tentar manter a aliança que há muito tempo nos aproxima do DEM.
Promovi encontros de Geraldo Alckmin com Gilberto Kassab e eu próprio mantive por inúmeras vezes conversas não só com eles, mas com figuras de grande liderança dos dois partidos, entre as quais me permito citar o Senador Jorge Borhausen, cujo comportamento, aliás, foi sempre absolutamente exemplar, com o Presidente Fernando Henrique Cardoso, o Senador Marco Maciel e o Presidente Nacional do nosso partido, o Senador Sérgio Guerra.
Nesses encontros, jamais disse e nem sequer insinuei que, nessa aliança, o PSDB se disporia a abrir mão de ter o cabeça da chapa. Ao contrário, em todos os momentos advoguei, e o fiz também publicamente, que o critério para a definição da candidatura deveria ser o da densidade eleitoral, o que levava, inexoravelmente, ao nome de Geraldo Alckmin, já que, em qualquer simulação era ele quem aparecia como candidato melhor aparelhado para derrotar nosso verdadeiro adversário nas eleições deste ano.
Nesse processo todo, agüentei com a maior serenidade, embora não negue que com profunda mágoa, as insinuações e as provocações mais absurdas que alguns companheiros do próprio partido fizeram contra mim, todas elas absolutamente injustas e quase todas com uma crueldade tamanha como se fora eu um inimigo a ser derrotado.
A tudo eu suportei com absoluta dignidade, mesmo sabendo que à frente dessa artilharia encontravam-se, algumas vezes, pessoas que não tinham credenciais para a missão que se propuseram a desempenhar. Alguns porque, à frente de seus Diretórios Zonais, nunca cumpriram os deveres mínimos que a função lhes impunha, como, por exemplo, reunir e ouvir o seu próprio Diretório. Outros porque eram, nos seus Diretórios, reféns de pessoas e grupos que tinham a estimulá-los interesses meramente pragmáticos, quando não fisiológicos. E outros ainda porque presidem os seus Diretórios como se fossem capitanias, prestando-se ao papel de simples capatazes de conhecidos senhores feudais.
Eu sempre disse, embora alguns fingissem não entender, que no começo de maio, esgotada a fase de conversação com os DEMOCRATAS, o PSDB anunciaria a sua decisão a respeito da posição do partido relativamente à questão sucessória no âmbito municipal.
Quiseram que eu antecipasse e eu não o fiz. Resisti até o fim a essas pressões. Não tomei conhecimento de atos nem de manifestações orquestrados por pessoas que se atribuem uma importância que não têm e que se organizaram para me obrigar a mudar um calendário sugerido por nós e aprovado pelos dois interessados na questão.
E com todos insisti, sempre que pude, que seguia aqui a lição de Mário Covas, tantas vezes lembrado com frases que ele jamais pronunciou, mas esquecido quando ensinava que “em política, a palavra empenhada tem que ser honrada”.
Em todo esse episódio tive a coragem de tomar atitudes que me indispuseram momentaneamente com alguns companheiros de partido, como foi com os vereadores da nossa bancada, por quem, não obstante, tenho profundo respeito, mas que me mandaram uma carta que, naquele momento, pareceu-me inoportuna e descabida, razão pela qual até hoje não a li.
Mas também não me acovardei diante dos que, do outro lado da contenda, achavam que poderiam me monitorar, subjugando-me e impondo-me prazos, critérios e estratégias que não lhes competia traçar.
Pois bem. A hora é esta. O começo de maio chegou. Como eu prometera lá atrás, o compromisso de fazer valer a vontade das bases do partido vai ser cumprido. Não façamos disso, entretanto, um espetáculo em que sairemos daqui divididos entre vencedores e vencidos.
A tarefa que nos incumbe, doravante, é árdua, espinhosa, desgastante, e vai exigir, mais do que nunca, paciência, serenidade, tolerância, compreensão, humildade e, acima de tudo, espírito partidário.
Como disse recentemente a uma jornalista por quem tenho muito apreço, vai começar a hora em que teremos que trabalhar para evitar que se quebrem novos cristais e juntar os cacos dos que já se partiram.
Não é tarefa que possa ser atribuída aos belicosos, aos que fazem política com ódio, aos que afagam ressentimentos, aos que não sabem conviver com os contrários e aos que vêem cada um que pensa diferente como um inimigo a ser esquartejado.
A fase que se inicia é de cautela, de ponderação, de espírito agregador, em que cada companheiro possa ser visto como um parceiro que vai nos ajudar a construir a grande vitória de que vamos precisar não só em 2008, mas também em 2010.
Nesse contexto, gestos de hostilidade, de grosseria e de provocação não serão bem vindos e é preciso que cada um tenha presente que um partido se fortalece com o processo de democracia interna, em que a cada um seja assegurado o direito de expressar a sua opinião, mas também com o respeito à hierarquia, sem o que inauguraremos anarquia, a desordem e a confusão.
Pois bem, por tudo isso e com a crença inabalável no discernimento, na boa fé, na seriedade, na honestidade e na supremacia do idealismo de cada um dos nossos companheiros de partido, eu comunitco a todos vocês que a Executiva do Diretório Municipal do PSDB, cumprindo os seus compromissos e respeitando a vontade manifesta da militância e das bases partidárias, no uso da prerrogativa que lhe confere o artigo 10 da Resolução nº 1 de 2008, do Diretório Nacional do Partido, anuncia que vai levar à Convenção Municipal do PSDB, a realizar-se no mês de junho vindouro, o nome de GERALDO ALCKMIN como nosso candidato a Prefeito de São Paulo.