O ano que finda não se resumiu apenas ao trecho de crises graves e agudas da nossa história contemporânea. Foi também, e especialmente, um ano de muitas lições para o país.
No plano econômico, aprendemos que não há decisões temerárias sem consequências desastrosas. Elas sempre ocorrem, quando ignora-se o bom senso e a realidade. Neste campo, basta revistar os registros disponíveis e constatar um sem número de advertências, de líderes e analistas independentes, sobre os riscos impostos pela má gestão de governos perdulários e irresponsáveis.
Estão custando caro à população a quebra da confiança e a perda da credibilidade no país, assentadas na farra dos gastos públicos, na formação de um deficit gigantesco, no dramático desequilíbrio fiscal, na leniência inflacionária, nos juros na estratosfera, nas canetadas intervencionistas dadas a esmo e em tudo o mais que redundou na inédita depressão dos tempos atuais.
O quadro ainda se agrava porque não há possibilidade de uma recomposição rápida. A crise de governabilidade dos Estados, como dominó da situação nacional, é um retrato fiel dessa dinâmica.
No campo ético e político, os desafios se acumulam e quase todos eles partem de um ponto nevrálgico: a profunda crise de representação que tomou as ruas, desde os movimentos de junho de 2013, passando pelo estelionato eleitoral de 2014 até o final melancólico do impeachment.
O cenário posterior gerou a necessidade de apoio suficiente para fazer o mínimo, o básico, o que precisa ser feito, as reformas necessárias para interromper o desastre em curso. E essa, sem dúvida, será a grande missão do governo de transição do presidente Temer.
Enquanto isso, seguem em curso a era dos escândalos em série e a necessária depuração da política brasileira, depois de anos de drástico compadrio e aparelhamento do Estado nacional, a serviço de um projeto de poder.
Que todas as denúncias sejam investigadas, garantindo-se o espaço de defesas e explicações antes que reputações sejam injustamente comprometidas de formas irrecuperáveis.
A verdade é que, em função do ambiente de tensão, o campo institucional passou a exigir do país mais cuidado, maturidade e equilíbrio, em busca de uma convivência pacífica e republicana entre os Poderes, passo importante no processo de amadurecimento da nossa democracia.
Fato é que, rusgas à parte, as nossas instituições estão funcionando. Nunca se apuraram tantas irregularidades. Nunca se constataram tantos malfeitos. E também nunca se cobrou tanto as responsabilidades.
Ao final, prevalece o antigo ditado que diz que há nas grandes crises preciosas oportunidades de aperfeiçoamento e avanço. É o que precisa acontecer agora.