Me incomoda, profundamente, a forma pela qual a Polícia Federal, ou seja lá quem for, deixa vazar, a conta gotas, cópias de e mails e gravações de conversas entre os personagens do triste episódio cuja figura central é a Rose, a chefe de gabinete da presidência da República em São Paulo.
Claro que o que se constata é que os governantes deste últimos anos não souberam separar os interesses próprios e de seus amigos e correligionários, dos interêsses públicos, isto é, público e privado tratados como uma coisa só. A mistura de corrupção, incompetência e preconceitos ideológicos é o que se tem visto, abalando o objetivo maior de construir um país democrático e justo. Tudo que ocorre na área pública deve ser transparente, visível, acessível ao grande público. Mas não podemos ficar reféns, dependentes, da vontade – sabe-se lá por que razão – de uma instituição policial, para tomar conhecimento do que se passa. A cada dia aparece um e mail ou uma gravação mostrando relações incestuosas, entre agentes públicos e interesses privados, a critério de quem vaza. Isso é estremamente perigoso pois pode acarretar injustiças e mal entendidos, o que é inaceitável, confundindo o que é verdade e o que é mentira, o que é importante e o que é de somenos.
Nós, que trabalhamos com o conceito de que a democracia é o conceito principal a se preservar e que é inaceitável condenar ou macular pessoas que podem ser inocentes, ou mesmo encobrir culpados, não podemos aceitar que as investigações, ao alvitre do corpo policial, sejam expostas dessa maneira. Se elas não são sigilosas – e se o são, é mais grave – cabe ao Ministéiro da Justiça promover a sua divulgação e a remessa ao Ministério Público para o devido processo legal. Sei que no passado os petistas não tinham os mesmos escrúpulos que fazem parte da minha concepção de política e que antes de chegarem ao poder manchavam, à vontade, a dignidade de quem quer que fosse, especialmente dos que não rezavam por sua cartilha, sem se preocupar com a verdade. É fato que agora estão bebendo do veneno que inocularam, sofrendo o mesmo tratamento que lá atrás dispensaram a quem lhes interessava destruir politicamente. Mas nós não temos o direito de agir da mesma forma.
O que pleiteio é que tudo que se conhece através das investigações da Polícia Federal seja encaminhado ao MP e que o Ministro José Eduardo Cardozo, desvestindo-se da roupagem petista, apresente à opinião pública a totalidade do resultado dos trabalhos investigatórios para que possamos – o público em geral – avaliar mais esse triste episódio do período de governo petista.