O Brasil ostenta hoje um índice de 45,6 milhões de pessoas com deficiência, segundo dados do IBGE de 2010. Deste enorme contingente de diversidade humana, a população feminina é maioria. Na gigantesca São Paulo, por exemplo, onde tive a honra de trabalhar como secretária e vereadora, a mulher com deficiência representava 55% da população no último estudo detalhado por gênero do censo de 2000.
Mesmo representando a maioria, a mulher com deficiência ainda sofre com a falta de acesso a serviços básicos ao público feminino, como um acompanhamento ginecológico e o acesso a realização de exames preventivos de doenças como câncer de mama. Isso ocorre por conta da ausência de postos de saúde acessíveis. Para se ter uma ideia, em todo o estado de São Paulo só existe um hospital com mamógrafos adaptados. Isso porque estamos falando do Estado mais rico do Brasil.
Por outro lado, apesar dessa enorme dificuldade de acesso, muitas mulheres com e sem deficiência podem desenvolver seu potencial de gestão pública. Em São Paulo, a maioria das lideranças de bairro é formada por mulheres. Elas não só brigam pela melhoria da vida de sua família, mas de toda a comunidade. Cobram por vagas em escolas, como também estão atentas à verba que o município dispõe à educação. Enquanto vereadora, recebia muitas destas mulheres em meu gabinete. Elas reivindicavam acessos, tratamento adequado para o filho, transporte adaptado, medicamentos e, principalmente, igualdade…
Com acesso aos serviços necessários para uma vida digna, qualquer cidadã pode contemplar a plenitude de sua feminilidade. Pode ser mãe, profissional, as duas coisas, várias coisas. Ou nenhuma, se assim o desejar. A deficiência não a impede de fazer nada. Agora, a deficiência da cidade sim. Tudo depende de acessos, de oportunidades. Para trabalhar é preciso ter saúde e acesso ao ensino. E para tal devem existir políticas públicas. Para amar é preciso ter o respeito dos outros e confiança em si mesma. Para isso, deve existir consciência cidadã.
No fundo mesmo, a luta da mulher é por ideais comuns de respeito, reconhecimento, amor. Não necessariamente nesta ordem. Talvez, a forma como elencamos nossos desejos seja a única coisa que nos difere uma das outra. Com deficiência ou não podemos nos tornar profissionais exemplares, atletas de respeito ou políticas. Também podemos, simplesmente, ser mulheres. E convenhamos: isso já não é para qualquer um!