Às vésperas de ser julgado no Supremo Tribunal Federal pela acusação de chefiar o mensalão, o ex-ministro José Dirceu, planeja uma reaparição pública em debate sobre a luta armada contra a ditadura militar (1964-85).
Ele avisou amigos que quer participar, no próximo sábado, de seminário sobre a história do Molipo (Movimento de Libertação Popular).
Defesa de Valério conta com aval do TCU no julgamento do mensalão
A organização foi criada pelos chamados 28 da Ilha, exilados que fizeram treinamento de guerrilha em Cuba e voltaram clandestinamente ao país para tentar retomar a militância contra o regime.
O plano fracassou, e a maioria do grupo morreu nas mãos da repressão meses depois de pisar no Brasil. “O Molipo foi dizimado”, resume o pesquisador Ivan Seixas.
Um dos três que ainda estão vivos é Dirceu, a quem Fidel Castro chama até hoje pelo codinome Daniel.
O ex-líder estudantil chegou a Cuba como um dos 15 presos políticos trocados pelo embaixador americano Charles Burke Elbrick, sequestrado em 1969.
Fez uma plástica no rosto para despistar a polícia e voltou pela primeira vez dois anos depois. O plano fracassou, e ele se abrigou novamente na ilha até voltar definitivamente em 1975.
Com o nome falso de Carlos Henrique Gouvêa de Melo, instalou-se em Cruzeiro do Oeste, no interior do Paraná, e se casou com Clara Becker, mãe do deputado Zeca Dirceu (PT-PR). Ela só descobriria a identidade do marido quatro anos depois, quando ele se viu beneficiado pela Anistia.
Preocupados com a exposição pública a cinco dias do início do julgamento, assessores ainda tentam demover o ex-ministro de ir ao debate no Memorial da Resistência, museu sobre a guerrilha mantido pelo governo paulista.
Nos últimos dias, Dirceu também revisitou o passado ao se hospedar na casa da mãe em sua cidade natal, Passa Quatro, no interior de Minas. Lá, no entanto, permaneceu em silêncio.