Assistimos, na semana passada, a apresentação das acusações do Ministério Público Federal ao ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva e, em seguida, a sua resposta, proferida por seu advogado, em seu nome. Depois de ouvir ambas, a acusação e a defesa, minha única dúvida é qual das duas causa mais dano ao ex-presidente;
Uma, a sua acusação, nos faz vê-lo como chefe de um esquema sórdido de rapinagem, que destroçou o Brasil. Não parece existir sequer um setor de sua administração que não tenha sido objeto de saque. Somados – os milhares daqui, os milhões dali e os bilhões dos esquemas mais gordos – o rombo atinge um valor difícil de ser calculado mas que pode facilmente, com o andamento das investigações, chegar a uma centena de bilhões de reais. A peça acusatória revela ao Brasil um personagem nefasto, corrupto e manipulador.
No entanto, é de nos deixar pasmos, a sua defesa nos mostra Lula como um personagem igualmente lamentável, e não lhe é menos danosa. Para tentar desvencilhar o ex-presidente da autoria desse conjunto impressionante de sangria do Estado brasileiro, a sua defesa diminui ainda mais o ex-presidente, declarando que tudo isso aconteceu sem que ele tivesse qualquer conhecimento de nada, afirmando que ele não sabia o que se passava na Petrobrás, na Nuclebrás, na Eletrobrás, no BNDES, nos fundos de pensão dos Correios, da Caixa, do Banco do Brasil, em Belo Monte, na transposição do São Francisco, que o ex-presidente da República não tinha conhecimento dos termos dos empréstimos brasileiros para Angola, Cuba, Moçambique, Venezuela, Bolívia, Nicarágua, Panamá, nem jamais percebeu o que faziam José Dirceu, Delcídio, Pimentel ou de onde vinha a dinheirama que Vaccari e todos os demais tesoureiros do seu partido, distribuíam para os candidatos do PT.
Numa, ele é chefe da rapinagem. Na outra, uma espécie de figura meramente decorativa, um pobre de espírito, ingênuo ao ponto de não ver o que se passava debaixo do seu nariz.
Causa ainda mais estranheza essa tentativa de repaginação da imagem pública do ex-presidente, que já foi o “Lulinha paz e amor” e agora surge em versão nova, como um semi-imputável. Difícil identificar essa pessoa com um outro Lula, o Lula ladino, que morava, como disse o jurista Hélio Bicudo, em uma casa de 30 m quadrados e, em poucos anos, amealhou uma fortuna de milhões.
Mais difícil ainda é acreditar que tamanha desfaçatez pode ser dita e repetida. Em si, esse desplante, é um desrespeito e um insulto à inteligência do povo brasileiro.