Dilma Rousseff deve achar natural passar a maior parte de seu tempo em cima de palanques. Afinal, desde o início do segundo mandato de Lula este tem sido seu lugar preferido. O problema é ela simplesmente relegar as obrigações de presidente da República em favor de suas pretensões eleitorais. Não foi para isto que foi eleita.
Desde que o PT ascendeu ao poder, o Brasil convive com uma espécie de campanha eleitoral permanente. O mau hábito vem de Lula, que, antes de chegar à Presidência, passara mais de 20 anos só montado em cima de palanques fazendo política partidária. Eleito, transferiu a prática para o exercício cotidiano do poder.
Foi neste ambiente desvirtuado que o ser político de Dilma foi gestado. Desde que, ao longo de 2007, ela foi sendo transformada em “mãe do PAC”, este se tornou seu ambiente natural. Seus passos são sempre articulados dentro de uma lógica eleitoral, suas ações são moldadas pelo marketing e suas iniciativas costumam carregar nas tintas do embate político.
Faltando 20 meses para a próxima eleição presidencial, o que antes era feito de maneira algo dissimulada vai se tornando agora francamente explícito. Dilma vestiu o figurino vermelho do petismo e assumiu de vez a retórica sectária do partido dos mensaleiros. Rasgou a fantasia de presidente e assumiu a vestimenta de candidata em tempo integral. Loba em pele de cordeiro.
Assim foi na festa de louvação aos dez anos de (des)governo do PT. Em meio a 50 minutos de desvarios e proselitismos, Dilma, a candidata, afirmou, entre outras coisas, que os governos petistas “não herdaram nada”, mas sim “construíram” um novo Brasil. Desdenhou de 500 anos de história, lutas e conquistas de toda uma nação.
Nunca antes na história, se viu a arrogância chegar a níveis tão estratosféricos. Nunca antes na história, a desonestidade foi tão flagrante. Nunca antes na história, o desrespeito a brasileiros que dedicaram suas vidas a construir um país melhor – para todos, e não só para alguns – foi tão abjeto. O Brasil não foi descoberto em 1° de janeiro de 2003!
Os que agora se dizem verdadeiros “construtores” do país foram os mesmos que se recusaram a tomar parte no processo de redemocratização que redundou na eleição de Tancredo Neves. Os mesmos que se recusaram a assinar a Constituição em vigor. Os mesmos que se opuseram à estabilização da moeda. Os mesmos que defenderam a irresponsabilidade fiscal e ora praticam a farra do boi com o dinheiro do contribuinte.
“Não se governa de cima do palanque. (…) A presidente Dilma faria muito melhor se, em vez de vestir vermelho e recitar num palanque as frases de efeito que lhe são ditadas por seu marqueteiro, se dedicasse a governar bem, que é o que dela se espera”, comenta O Estado de S.Paulo no editorial de sua edição de hoje.
É legítimo Dilma postular mais quatro anos de governo. É acintoso fazê-lo tendo cumprido pouco mais da metade do mandato para a qual foi eleita em outubro de 2010. O que importa aos brasileiros é a mandatária honrar os deveres reservados a quem foi escolhida para enfrentar os problemas reais do país. Mas terá Dilma feito isto nestes dois anos?
A presidente desperdiçou a força política que acompanha os anos iniciais de governo sem promover mudanças significativas na estrutura do país. Consumiu um ano só tentando debelar focos de corrupção herdados de Lula, mas gostosamente acolhidos por ela. Gastou o segundo tentando remendar as convicções estatizantes do petismo, para, ao final, ter que adotar como solução tudo o que seu partido renegara por décadas.
Em seus dois anos de governo, Dilma Rousseff não chegou a lugar nenhum, mas quer que os brasileiros lhe deem mais quatro, provavelmente para ir a parte alguma. Se para a petista é natural dedicar seu dia a dia a suas pretensões eleitorais, para os cidadãos as jornadas deveriam ser reservadas a trabalho árduo e honesto. O país tem problemas demais para serem resolvidos de cima de palanques. Precisa de presidente, não de candidata.