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O título da reportagem Lobista diz a tucano como arrumar verba para obra da Alstom, publicada em O Estado de S.Paulo (5/12, A10), leva o leitor apressado a supor erradamente que eu tenha algo que ver com irregularidades que possam ter ocorrido no fornecimento de obras e serviços metroferroviários do governo paulista. O título junta “lobista” com “Alstom” e põe minha foto para ilustrar a palavra “tucano”: está feito o estrago! Ora, o texto, que nem todos leem, põe as coisas no lugar.
Recebi, sim, um e-mail em 26 de setembro de 2006 em que Jorge Fagali Neto sugeria que o então candidato José Serra, se eleito governador, buscasse nesses mesmos organismos recursos suplementares aos orçamentários para a conclusão de obras contratadas nos governos Mário Covas e Geraldo Alckmin. Os vários projetos a que ele se refere, a cargo do Metrô, da CPTM e da EMTU, não são da Alstom, mas do governo de São Paulo. Os autores da matéria poderiam apurar junto ao atual secretário de Transportes Metropolitanos qual a participação da Alstom nos empreendimentos citados que autorizasse o título a designá-los “obras da Alstom”.
A Linha 4 do Metrô deve muito ao trabalho do sr. Fagali. Foi ele que conduziu, na década de 1990, tratativas do governo com o Banco Mundial, que, pela primeira vez em sua história, concordou em financiar linha de metrô num país do Terceiro Mundo. Essa iniciativa deveria ser saudada, em vez de estigmatizada. Ou será que vamos supor que o Banco Mundial esteja comprometido com o cartel dos trens?
Sobre o e-mail que motivou a reportagem, reitero o que disse ao repórter: ele ficou sem consequências, pois não transmiti as sugestões ali contidas a Serra. Afinal, estávamos na reta final de uma campanha tensa e não seria razoável tratar com ele, àquela altura, desse tipo de assunto. Eleito, Serra não foi ao Japão tratar desse tema, tampouco ao Banco Mundial. O aditivo ao contrato de financiamento para a Linha 4 só foi assinado quase dois anos depois e num valor muito diferente do constante indevidamente no famoso e-mail.
Não houve interferência de Fagali nesse financiamento suplementar, como repórteres teriam podido constatar se tivessem ouvido o ex-secretário José Luiz Portella. Logo, a notícia do Estadão é uma não notícia.
Aloysio Nunes Ferreira, senador (PSDB-SP)
Brasília