O PT e seus simpatizantes voltaram a exercitar sua costumeira intolerância. O horror às críticas e ao simples exercício do contraditório marcam tanto as agressões e os protestos que cercam a visita da blogueira cubana Yoani Sánchez ao país, quanto o panfleto travestido de cartilha em que o partido dos mensaleiros distorce a história brasileira recente.
Yoani desembarcou no Brasil sob fogo cerrado dos saudosistas do stalinismo. Foi vilipendiada na Bahia, viu ser impedida a exibição de um filme sobre Cuba e precisou ter sua segurança pessoal severamente reforçada. Reagiu a tudo isso de maneira olímpica: “Quero essa democracia no meu país”, disse ela, mostrando seu apreço pela livre manifestação.
A truculência com que são seguidos os passos da cubana de 37 anos que se tornou conhecida no mundo todo por denunciar, por meio de um blog, as agruras por que passam seus conterrâneos poderia ser apenas mais uma manifestação exótica de quem professa crenças anacrônicas e cultua ícones carcomidos. Mas é algo pior quando se constata que representam manobras urdidas, inclusive, com a participação de gente do governo brasileiro.
A chegada de Yoani foi precedida por articulações da embaixada cubana em conluio com a rede subterrânea de difamação que o PT e seus aliados mantêm e alimentam na internet – parte dela paga com dinheiro público. Mais grave, um funcionário do Palácio do Planalto tomou parte na trama, conforme revelou a revista Veja em sua edição desta semana.
Infelizmente, não se pode dizer que os grupelhos que afrontam a livre manifestação e o sagrado direito de ir e vir – a blogueira cubana é apenas a vítima da hora desta patrulha – sejam atos isolados de uma gente que parou no tempo. Quando o mau exemplo vem de cima, a turma se sente liberada para afiar as garras e mostrar os dentes.
A lista de precedentes é longa e inclui a entrega, por parte do governo petista, à ditadura castrista de dois atletas que desertaram da delegação cubana que participava dos Jogos Pan-Americanos do Rio, em 2007. Assim como a ocasião em que, em visita a Havana em 2010, Lula comparou dissidentes daquele país a marginais.
Entretanto, como felizmente vivemos num país democrático, Yoani terá oportunidade de expressar-se livremente hoje em Brasília e fazer o que os patrulheiros de plantão não lhe deixaram fazer na Bahia. Ela atende oportuno convite feito pelo PSDB, por intermédio do deputado Otávio Leite (RJ).
Enquanto Yoani prova da truculência dos petistas e seus simpatizantes, o país presencia mais uma tentativa do partido dos mensaleiros de reescrever a história brasileira por meio de mistificações, mentiras e bravatas. É a que se resume a “cartilha” em que o PT distorce seus dez anos de governo.
Sobre o documento, se é que se pode chamá-lo assim, resume hoje a Folha de S.Paulo: “Cartilha comemorativa dos dez anos do PT no poder federal manipula números, datas e conceitos, (…) em meio a exageros, omissões e dados de procedência duvidosa”.
A iniciativa revela o anacronismo da visão de mundo daqueles que há uma década comandam o país; sua falta de generosidade de reconhecer acertos de governos de partidos adversários, sempre tratados como inimigos; e a desonestidade de distorcer, descaradamente, os dados da realidade.
A desonesta divisão que a cartilha petista adota entre um presente supostamente venturoso e um passado mentirosamente ruinoso aproxima-a dos métodos mistificadores adotados por regimes de exceção. É mais um capítulo nefasto de uma escalada de desrespeito aos que pensam diferente e uma afronta a um legado que, de resto, forneceu todas as condições para que o país chegasse aonde chegou até agora.
A intolerância que o PT reserva a seus adversários contrasta com a candura que dedica a seus malfeitores, em especial seus próceres condenados pelos crimes do mensalão. Hoje, estas duas faces do partido dos mensaleiros estarão lado a lado no mesmo palco. Uma não existiria sem a outra.