Ricardo Buso*
No Estudo das Ciências Econômicas, mais especificamente da Macroeconomia, é amplamente aceitável a tese de que o crescimento econômico de um país, quando respaldado em condições incapazes de garantir que o arranjo produtivo instalado responda adequadamente ao suprimento das aceleradas demandas de consumo, tem o poder de gerar o efeito colateral da pressão inflacionária.
Logo, notamos que no Brasil o crescimento da economia, também amparado na favorável conjuntura internacional passada, ou em fase já duvidosa, ao menos, gera perspectivas mais conservadoras para os próximos períodos, possivelmente abaixo da taxa média dos últimos anos, porém sem reverter as expectativas ascendentes para a taxa de inflação, que perigosa e recorrentemente vem fugindo ao centro da meta traçada pela equipe econômica do governo. Divulgações prévias e recentes do índice oficial de inflação, anualizadas, projetam evolução dos preços de 6%, podendo chegar a 6,5%, a ser contida apenas no último trimestre desse ano. Tudo isso se torna mais crítico quando falamos do país que executa uma das maiores taxas de juros reais do mundo.
Entretanto, contrariando essa coleção de hipóteses, em recente entrevista, a Presidente da República expôs sua crença de que crescimento econômico e inflação não colidem.
Esse seria o cenário ideal, mas, fora do campo das aspirações, a realidade indica que todos os sinais convergem para um superaquecimento da economia brasileira, que mesmo sob as perspectivas de crescimento menos robusto, a famosa “capacidade ociosa de produção é verdadeiramente escassa.
Em minha opinião, tal “capacidade ociosa”, antídoto ao ataque inflacionário, foi seriamente contida por fatores históricos do país, como o baixo índice de poupança doméstica e a taxa de juros desmotivadora à produção, mas, principalmente, por uma recente política econômica de exagerados gastos correntes em detrimento dos tão cobrados investimentos público, que certamente poderiam ter preparado o país para muitos desafios de suprimentos em diversas frentes.
E nesse estrangulamento da capacidade de crescimento pela ameaça inflacionária, parece que os primeiros passos do novo (?) Governo indicam que o curto cobertor cobrirá prioritariamente o crescimento econômico, vez que o tão alardeado corte de gastos públicos ainda é objeto de sérias dúvidas mal-explicadas e a tentação da apreciação cambial continuar driblando o indicador de preços seduz cada vez mais. Enquanto isso, a desculpa de inflação temporária e mundial de alimentos parece que “vai colando”, mesmo que já perdure tanto e afete justamente a camada social que mais perde com um possível descontrole inflacionário.
Por fim, ainda que tentem minimizar a razão econômica, não há como pular a importante etapa da nítida necessidade de reorganização do arranjo produtivo da economia brasileira, principalmente por meio de investimentos em infra-estrutura, para fugir desse tão limitante “cobertor curto” entre crescimento e inflação.