Tania Malinski *
Desde a antiguidade clássica a mulher foi objeto de disputas políticas (Guerra de Tróia), símbolo da vitória (estátuas de tantas liberdades), deusa e sacerdotisa que anuncia o futuro. Desde o antigo testamento estivemos presentes e atuantes como líderes do povo, comunicando com palavras, gestos ou mesmo com o silêncio, lembremos Ruth, Éster, Madalena, Ana, Isabel, Maria… Somos tudo isso, e também somos simplesmente mulheres, porque oferecemos comforto, apoio, alimento, ajuda, motivação, perseverança, casa, templo.
Mesmo que nossa presença seja tão antiga quanto a do homem, a participação feminina na política ainda é vista como algo que foi trazido pela modernidade.
Recentemente a ADB Associação dos Diplomatas Brasileiros, publicou um artigo em seu boletim (acessível pelo site www.adb.org.br) a respeito da representação feminina no Poder Legislativo brasileiro. Este artigo vem bem a calhar para os debates desta semana.
O artigo se chama Longe da Igualdade: baixa representação feminina no poder Legislativo indica atraso cultural dos brasileiros.” O artigo começa lembrando que embora exista a reserva de 20% para candidaturas femininas imposta pela Lei n. 9.100/95, o percentual não é preenchido. A cientista política e autora de Mulheres na elite política brasileira, Lúcia Avelar, oferece dois argumentos baseados em pesquisas sociais e demográficas para explicar essa situação.
Primeiro, haveria permanência de uma mentalidade patriarcal que a autora associa ao ambiente rural e que mesmo a rápida urbanização não conseguiu superar de todo. Em segundo lugar, a estrutura oligárquica da política brasileira teria contribuído para esta exclusão. No artigo não fica bem explicado este segundo argumento, apenas se aponta para o fato de que os movimentos sociais de esquerda trouxeram maior participação feminina nos partidos políticos, em meio às reivindicações de direitos dos trabalhadores.
A autora também menciona situações mais práticas que não podemos negar. Uma é que a mulher é a principal responsável pela administração da casa e educação dos filhos no cotidiano e a vida política exige uma dedicação que envolve deslocamentos e horários imprevistos de trabalho. Por outro lado, mesmo as mulheres acham a política uma atividade agressiva e competitiva e rechaçam a luta que se trava por poder e influência. Podem [e eu acho que devem!] por natureza, ter uma propensão menor a buscar o poder como símbolo de força, de grandeza, como se se tratasse de um jogo de sujeição e de dominação.
Se a política fosse resumida a concorrência e disputa, realmente não sentiríamos vocação alguma. A questão é que a essência da política não é essa: essa é uma das formas que a política pode assumir, caso exercida pelos homens, que, é claro, empregam virilidade nesse exercício (ou macaqueada pelas mulheres que acabam renunciando à sua qualidade de mulher).
A essência da política é a preocupação com o coletivo, o serviço à uma população, a busca de verdades por meio do convívio, para que essas verdades encontradas por meio do diálogo possam ganhar concretude em favor de todos. E nesse diálogo público, a presença da mulher é FUNDAMENTAL. Não apenas para cuidar e acolher aquilo que é iniciado pelos homens…mas para COM eles e AO LADO deles gerar novas idéias e realidades. Política é vida, e disso nós entendemos!
Apenas como reflexão final, pergunto: será que Dilma teria conquistado a candidatura a presidência não fosse ter sido apadrinhada pelo Presidente Lula” Mesmo tendo se sobressaído como uma ministra dedicada e leal ao governo Lula, em que pese os escândalos que apresentou ao longo dos últimos anos, não creio que seria uma tarefa fácil se tivesse vindo de baixo para cima a escolha do candidato do PT, caso houvesse sido o processo democrático por aquelas bandas. Mais me parece alguém que não incomodou o Presidente, porque a Marina, de maior criatividade e personalidade, já não caiu nas mesmas graças…ela sim seria uma candidata natural do PT à presidência e acabou sendo colocada de lado.
Mas, enfim, nos cabe concentrar no PSDB e tentar aperfeiçoar o nosso coletivo partidário. Tenho convicção de que o papel da mulher será de crescente qualidade, que passaremos da fase de reivindicar espaço para passar a realmente fazer política. É óbvio que este espaço tem de ser conquistado por nós mesmas. As primeiras que tem de respeitar o espaço da mulher somos nós mulheres. O pensamento humano não é exclusivo dos homens e não é sinônimo de masculinidade. Política também não é força bruta, é civilização. No espaço da vida, do pensamento e do convívio, a dignidade do homem e da mulher é a mesma e essa dignidade passa justamente em reconhecer as diferenças e nelas ver um complemento, uma riqueza. Política também é consciência. A mulher vem ganhando a sua.
Política é algo sério demais para ser deixado exclusivamente aos homens…o pior, no Brasil, é que se fecham os espaços de debate para mulheres com boa formação, e depois de uma hora para outra nós ouvimos falar de mulheres que conquistaram fama em reality shows ou coisas piores, ganhando espaço na mídia, como se representar o povo se tratasse de ter um espaço para exercer a vaidade e inflar o ego, ganhando, é claro, também algum dinheiro…
O irônico é que precisamos dos homens para sermos o que somos, assim como eles se sentem mais fortes na nossa presença…Não queremos ser guerreiras, queremos ser devidamente protegidas para que, asseguradas do nosso lugar ao sol, não precisemos nos ocupar de estarmos nos defendendo o tempo todo das injustiças. Mas temos nossa própria proatividade. Não é por acaso que o milagre da transformação da água em vinho por Jesus se tenha dado em um casamento, e que uma MULHER, sua mãe, é que tenha lhe apontado: Eles não têm mais vinho! Maria soube fazer silêncio. Mas também soube falar na hora certa.
Por isso, tucanos e tucanas, uni-vos! Esta união é que faz a verdadeira força. Acho que está passado o tempo de segmentar e criar grupos exclusivos para grandes monólogos… a hora é de entrelaçar as correntes todas e construirmos desde já a nova sociedade que queremos com a Vitória de nosso candidato, que, diga-se de passagem, tem uma primeira-dama que honra a todas as latino-americanas com sua postura a um tempo digna e discreta, e atuante e socialmente engajada.