Tania Malinski *
Esta semana tivemos oportunidade de assistir a uma excelente exposição feita por Evandro Losacco sobre a origem e trajetória do PSDB. Pudemos acompanhar o contexto de surgimento de nosso partido e comprovar a coerência de seus militantes desde sua criação.
O momento que mais me chamou atenção foi quando Evandro lembrou que o ex-Presidente FHC teve uma visão de futuro sobre o velho MDB, tendo dito que ou ele se voltava para a afirmação da democracia e da reforma, ou cairia no fisiologismo.
Pois eu sinto o PSDB hoje diante do mesmo dilema. Ou reafirmamos nosso compromisso CONCRETO com a democracia e a reforma, ou vamos estar deixando de lado a chama que nos move a todos, que é a chama da mudança, do progresso qualitativo que tanto o Brasil precisa.
E vejam que os valores não mudam, mas eles têm de se readaptar às novas circunstâncias e desafios. Hoje nossos valores encontram novos testes de qualidade. As circunstâncias exigem que nós vejamos que o povo hoje não quer mais um partido que seja intérprete de suas aspirações. A democracia que precisamos hoje, é mais que a democracia das urnas, mais que a democracia formal, mais que a democracia que nós militantes pensamos em levar ao eleitor como uma receita pronta. É a democracia na prática, na sua essência, no seu espírito de verdade, diálogo, encontro e comunhão.
Da minha parte, eu só vejo graça no PSDB se for um PSDB ousado, corajoso, que queira realmente mudar pra melhor o Brasil. Ser gerente do status quo não é nossa vocação. Nossa vocação tem de ser a de querer desafiar a inércia, trazer desenvolvimento. Mudar o rumo das coisas. E todos JUNTOS, num espírito positivo, generoso e de partilha. Aquele que nos dá um conforto interno de estarmos do lado certo e que faz da própria caminhada uma sensação vitoriosa, uma anunciação do bem que está por se realizar.
Mesmo sendo recém-chegada ao partido, tenho amor pelo meu país e pelos valores que o PSDB representa. Me permito traçar alguns pontos que eu acho importantes para a militância garantir a vitória:
1. Fazer auto-crítica – Há um déficit de representação da periferia no partido, que se afunilou numa estrutura piramidal. Há tempo para corrigir essa distorção uma vez que a militância de base é capacitada e operante, está pronta para atuar mais incisivamente. Vamos ter a humildade de fazer uma critica interna sobre as ultimas eleições que não foram bem sucedidas.
2. Respeitar o povo O povo elegeu o Lula porque se sentiu representado. Temos de respeitar o componente afetivo e de esperança que o presidente representou. Temos condição de levar ao povo, já na campanha, a primeira coisa que o povo quer: respeito. A partir do respeito como valor comum, podemos levar um novo código, argumentar que quem mais respeita o povo Brasileiro concretamente nos seus anseios é nosso candidato.
3. Radicalizar a questão ética É urgente encontrar uma expressão legitima dos anseios populares que se compatibilize com uma normativa geral de ética. Chegou a hora da verdade para o Brasil. Chega de empurrar com a barriga, aceitar meias-verdades políticas e plataformas mais ou menos isso ou aquilo. O Brasil tem solução hoje, não lá longe no futuro, a depender de um messias. Dependemos, sim, de uma verdade, de um valor fundante.
4. Humanizar o programa O povo não quer mais intérprete de sua vontade, nem analista sobre sua personalidade. A razão política precisa reabsorver o afeto popular e demonstrar que pode ir além a partir dele, não ignorando o que já está posto. Nossos candidatos estão apegados por demais à razão, ao número, ao raciocínio frio. Temos de recolocar o componente humano NO CENTRO das propostas. A base da autoridade é afetiva, ainda mais para um país de homens e mulheres cordiais. Desenvolvimento começa pelo desenvolvimento das pessoas concretas, não é algo abstrato solto no espaço. O que é ser brasileiro(a)”
5. Disciplinar a campanha Nossos valores começam a se espelhar já na forma como fazemos campanha. Ficha limpa começa na campanha limpa, na licitude e transparência dos meios. Tudo é meio, o único Fim em si mesmo é o ser humano eleitor. Se jogarmos sujo na campanha, mesmo que tenhamos o idealismo mais puro nas propostas, estamos nos nivelando ao que nos opomos como conjunto (o governo atual).
6. Arejar a militância – Há de ter um fluxo de cima para baixo, e outro de baixo para cima. Não podemos seguir com o esquema unilateral de cima para baixo, e tb não interessa ter um partido sem capacidade critica e liderança filosófica, movido apenas pela engrenagem do voto ou picuinha pessoal. O que arregimenta e une indistintamente é o VALOR por detrás da proposta política. Os lideres e políticos representam valores mais do que qualquer pauta pessoal de competência. Ótimo que tenhamos caciques, mas vamos nós índios e índias começar a nos mexer também, pensar, arejar e tirar a poeira das gavetas dos arquivos. Não precisamos esperar para sermos valorizados. Militantes de todas as classes, cores e origem social, nos valorizemos. Todos precisamos uns dos outros.
7. Inovar os quadros, atualizar a representação PSDB precisa de renovar os quadros, não na idade dos candidatos, não tanto no tempo de militância, mas na ATITUDE NOVA. Uma nova representação de interesses, sem viés econômico. Essa história de empreendedorismo é ótima para empresário. Mas nós brasileiros comuns não somos peça de engrenagem a serviço das empresas. Queremos um espírito público e preocupado com nossas necessidades, com NOSSO desenvolvimento profissional também e sobretudo com o que é comum a todos, o que é público por natureza. Ademais, a empresa existe para a pessoa, não é a pessoa que existe para a empresa como muitos fazem parecer. Precisamos de novos candidatos, além dos que estão aí, representando bem o empreendedorismo.
8. Soldar o pais, reafirmar a união dos brasileiros.
Não adianta combater a ditadura depois que já fez o estrago. Precisamos cortar o mal pela raiz. Nosso partido nasceu da oposição ao totalitarismo. Pois bem, já vemos o pré-anuncio de um totalitarismo de esquerda. É hora de começar a luta e já. Pelo resgate e aprofundamento da democracia e da reforma.
9. Respeitar o opositor. A intolerância é para com a proposta política deles, não em nível pessoal de inimizade. Somos inimigos dos valores falsos e da política interesseira. Somos amigos de qualquer brasileiro e brasileira. O combate é contra as idéias, nunca contra as pessoas.
10. Preparar-nos para o pior cenário, sem perder a fé Sermos idealistas no sonho, mas sabendo que o pior pode vir. Quando há duas propostas políticas radicalmente diferentes quanto aos val
ores humanos que defendem, o choque é violento. Será um parto contra a mentira. Mas valerá a pena. Lembrar do PCC, mensalão, dossiê, ter consciência de que não se trata de um debate entre idéias políticas, mas entre interesses e forças concretas também. Os resquícios do mundo feudal da suserania e vassalagem, troca de favores e confusão entre publico e privado, precisa ceder espaço por um mundo de cidadania urbana, com normas gerais, governo impessoal e direitos do eleitor oponíveis concretamente ao Estado. Tenhamos persistência e coragem.
Democracia e reforma na prática… nosso futuro esta a depender dessa capacidade, como esteve quando o PSDB se bipartiu do velho MDB (PMDB)! Democracia na prática começa internamente, nos nossos quadros, na forma que abrem oportunidade para todos igual, na forma como a campanha se articula com a rua, na forma como a interlocução opera. Democracia na prática hoje é democracia material, igualdade de oportunidades entre nomes tradicionais e novas forças que brotam da chamada base social. Reforma na prática é aceitar que a elite de ontem não tem a solução para o povo de hoje. A solução surgirá do encontro ela virá como uma virtude que está na mediania. A solução para a pobreza não vem da riqueza. Vem do ato de partilha, que exige uma nova atitude de abertura mental e de misericórdia mesmo, fazer-se miserável no coração, colocar-se na posição do outro. E quem quer algo também precisa estar pronto para receber.
Esta é nossa reforma. Não é revolução induzida pelo povo, artificialmente construída por meios de propaganda. É uma revolução que virá na hora que o povo estiver preparado para ela. É uma reforma que respeita a vida e a consciência de todos, até de quem não pensa como nós. Mas tenhamos consciência de que é a chama desta reforma que fará toda a diferença. Sejamos cada um de nós portadores dessa pequena luz. Quanto mais escuridão, mais ela brilhará!