*Ricardo Buso – Economista
Seguramente podemos reconhecer a forte evolução da economia brasileira nos últimos anos, garantida também pela audácia do Plano Real como importante e eficaz instrumento de estabilização monetária, que convergiu uma enraizada e caótica cultura inflacionária (que chegou a atingir 2.477,15% ao ano, em 1993), para níveis próximos a 5% ao ano.
Certamente muitos lembrarão que antes do Plano os financiamentos, por exemplo, eram limitadíssimos e com parcelas indexadas, seja ao dólar, a TR, ao IPCA, ou mesmo aos índices governamentais, como a UFIR, numa loucura hoje inimaginável.
Assim fica relativamente fácil perceber que sem a estabilização monetária, fruto do Plano Real, da qual hoje gozamos, dificilmente haveria condições básicas de sustento para o atual quadro evolutivo de nossa economia.
Isto posto, retomando nosso processo de crescimento, em economia sempre é presente o famoso paradoxo do copo quase cheiro X copo quase vazio. No caso, ao celebrarmos substancial crescimento econômico de 7% ao ano, mesmo num grande pós-crise internacional, convém também observar o lado quase vazio e refletir sobre o crescimento potencial atropelado pela mais alta taxa de juro real do mundo.
Há alguns anos chegamos ao ponto de estrangulamento entre crescimento econômico e ameaça inflacionária, que nos leva a manter taxa básica de juros nominal de 10,75% ao ano, quando o mundo pratica algo próximo a 3 ou 4%. Para o êxtase dos banqueiros, o raciocínio aplicado é que o forte crescimento precisa de contenção (através de juros) para segurar a inflação.
Ora, questão inevitável: Isso é um crescimento sustentável” Se considerarmos como sustentável o movimento capaz de progredir perenemente, sem sobressaltos, naturalmente que a resposta é NÃO.
Como crítica vazia não costuma ajudar em nada, tomo a liberdade de apresentar meu modesto diagnóstico sobre esse ciclo parcialmente frustrante: Sabemos que a inflação é acelerada por excesso de demanda não correspondido pela oferta, logo, entendo que o crescimento pode se sustentar sem maiores sobressaltos inflacionários quando a economia conta com capacidade ociosa de produção, ou seja, o devido aparelhamento dos produtores para oferecer produto ao mercado conforme o incremento da demanda, estimulados, naturalmente, por ganhos de escala.
Mas para a instalação dessa capacidade é fundamental o empenho do Governo no investimento em infra-estrutura, algo que sabemos do estado de precariedade no Brasil (através do exame da situação dos portos, aeroportos, etc.), corroborado pelos números do investimento da União na participação do PIB.
Para um investimento maciço nessa área, entendo como fundamental a necessidade de responsabilidade fiscal, primando pela eficiência nos gastos, sobretudo na traiçoeira rubrica dos gastos correntes, notadamente reconhecido que o atual governo federal não é bom exemplo para tal aspecto. Já os motivos de tal indesejável descompasso, que compromete a disponibilidade dos recursos para investimento, deixo para os analistas políticos discorrerem…
Ademais, sabemos que contas públicas bem controladas ofereceriam maior segurança para os investidores, que conseqüentemente exigiriam menor remuneração (juros) para financiar o déficit público.
Concluo, com isso, que o debate sobre a eficiência e disciplina fiscal esboçado na recém finalizada disputa eleitoral trazia um pano de fundo de gigantesca importância para o país, sobretudo ao buscarmos o tão sonhado crescimento sustentável.