Como há muito tempo venho alertando, em diversas manifestações, incorrerei novamente no pecado da chatice da repetição de que a ânsia pelo imediatismo de resultados, para expô-los em vitrine populista, vem comprometendo a seriedade da política econômica no Brasil.
Sem mencionar todas as críticas que já apresentei quanto às condições de sustento ao nosso crescimento econômico, dessa vez chamo a atenção também para a conveniência do direcionamento dos méritos e das responsabilidades.
Quando falamos do crescimento mundial e de seus reflexos na demanda da maioria dos países emergentes, produtores de commodities, ouvimos os alardes de que o Brasil cresce por uma política econômica séria, “nunca antes na história desse país” vista, ou que “somos o último país a entrar na crise e o primeiro a sair dela”, e por aí vai… Mas, por outro lado, quando tocamos nas conseqüências do atropelamento de medidas, como a notória e gritante inflação que nos atinge, aí o problema é mundial. Conveniente, não?
Assistimos ao “tiroteio” da Fazenda tentando acertar o descontrolado ataque inflacionário em todas as direções ao mesmo tempo, com diferentes armas e calibres. Ora o problema é tratado como marginal e passageiro, ora é digno de todos os esforços para contenção.
A política cambial é das mais misteriosas já vistas, vez que, embora rotulada de flutuante, sofre todas as intervenções possíveis e imagináveis, tanto para combater a inflação quanto para tentar mitigar a redução da competitividade do exportador brasileiro no cenário mundial. Como resultado, de maneira natural, a falta de foco não atende a nenhum dos objetivos. Parece que voltaremos a contar com a nova (?) modalidade da “ameaça cambial” para contornar os problemas.
Em matéria de “criatividade”, nada tem superado a perversidade das grosseiras interferências do governo na operação de empresas de capital aberto, listadas em Bolsa, como os casos da Vale e Petrobras. A truculência da ação chega a desdenhar da seriedade dos mercados no país.
Na tentativa desenfreada de não ceder à constatação de que, depois de tantos carnavais, o problema econômico do país continua exatamente o mesmo – qualquer crescimento pouco maior precisa ser perversamente contido por elevação de juros -, o Banco Central tinha inicialmente se submetido ao artifício da Fazenda de confiar nas chamadas “medidas macroprudencias” para minimizar a questão. Mas agora, num verdadeiro “de volta a prancheta”, a última ata do COPOM deixa transparecer que a saída dos juros parece mesmo inevitável.
Mas se não queremos inflação nem juros, será que estávamos pensando em um milagre? Longe disso! Queríamos, no tempo ideal para isso, uma política que tivesse buscado a responsabilidade econômica, com a construção das necessárias bases ao crescimento sustentável, aproveitando toda a liquidez despejada no mundo. Por exemplo, no auge da crise, nossas medidas contra cíclicas poderiam ser orientadas para o investimento e não para o gasto público, o que injetaria recursos sem deixar as necessárias bases de crescimento. Mas, não… Preferimos o inchaço da máquina pública.
Como reflexo disso, presenciamos o mundo muito mais reticente ao crescimento do Brasil. Exemplo é a matéria de 28/04/2011 do conceituadíssimo britânico “Financial Times”, cujo título traduzido era “Ascensão brasileira mascara vulnerabilidades do crescimento”.
Enfim, a atual conjuntura de proximidades de um novo marco internacional, requer, mais que nunca, seriedade na condução da política econômica do Brasil, que não pode se dar ao luxo de heterodoxias inconseqüentes ou “achismos”, sob pena de perder grandes conquistas do seu povo.