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Edgar de Souza quer segmento LGBT fortalecido

Há um sentimento de orfandade no movimento LGBT e o PSDB precisa mostrar o compromisso, presente em seu DNA, com a liberdade e a dignidade humana para aproximar essa militância do partido. A afirmação é do prefeito de Lins (SP), Edgar de Souza, que assume, a partir de maio, a presidência nacional da Diversidade Tucana. “O PSDB nasce da defesa radical da democracia e abraça essa causa, pois não há democracia com segregação. E nós precisamos fortalecer isso”, afirma.

Segundo ele, há um grupo grande de militantes LGBT que, de fato, se alinhou aos partidos “ditos de esquerda” por não ter encontrado espaço nas legendas de centro ou mais liberais. Além disso, avalia, houve um movimento ainda pior na eleição de 2018, que foi a ida dessa militância, pelo sentimento antipestista, para a extrema direita. “Temos que mostrar que, no PSDB, esse segmento tem voz. Do contrário, vamos ficar perdendo pessoas para um e para outro lado”, completa.

Primeiro prefeito no Brasil a assumir abertamente sua homossexualidade, Edgar Souza afirma também que candidatos, ainda que LGBT, não podem ser “monotemáticos”. Nesse sentido, defende uma formação política ampla, tanto no conteúdo quanto no alcance dos filiados. “Assim, teremos candidatos que vão levantar as bandeiras da socialdemocracia e que também vão defender a bandeira das políticas púbicas LGBT”.

Confira a entrevista:

Quais são as demandas da Diversidade Tucana para o partido?
Fortalecer o nosso segmento. Há uma grande confusão hoje no Brasil de que a luta do movimento LGBT é uma luta centrada, única e exclusivamente, à esquerda. Mas quando vemos a história, a luta da população LGBT está muito ligada ao movimento liberal. Os países da esquerda clássica sempre trataram com muita violência e dureza o movimento LGBT. A verdade é que essa é uma pauta do movimento liberal, pelos direitos humanos, pelos direitos civis.

Sentimos que temos, no PSDB, um potencial. Por ser um partido da socialdemocracia, que nasce dessa defesa radical da democracia, o PSDB abraça essa causa, pois não há democracia com segregação. O PSDB assume esse compromisso em seu DNA. E nós precisamos fortalecer isso.

Há uma ideia de que não há espaço para a militância LGBT fora da esquerda.
Vamos pegar os números oficiais: 10% da população brasileira é LGBT. São 20 milhões de pessoas. A maioria não é militante, mas vota. Na militância, há sim um grupo grande que acabou indo para os partidos que se dizem mais à esquerda porque não encontrou espaço nos partidos de centro e nos partidos liberais. E na eleição de 2018, tivemos um fenômeno ainda mais trágico, que foi a militância LGBT, pelo sentimento antipetista, indo para a extrema direita.

Então, imaginamos que há um sentimento de orfandade nesse segmento. E nós temos que mostrar que a socialdemocracia tem esse compromisso com a liberdade e com a dignidade humana. Para a socialdemocracia, todas as pessoas importam. Precisamos identificar esses militantes “órfãos” e aproximá-los do partido, oferecendo formação política.

O presidente Fernando Henrique fala com muita sapiência sobre isso: os partidos precisam repensar sua maneira de existir. Acabou aquela história de que o partido se organizava por uma leitura muito simples da luta de classes. Hoje temos a questão ambiental, a questão da moradia, a questão educacional, dos direitos civis. Temos que estar antenados a isso. Do contrário, vamos ficar perdendo pessoas para um e para outro lado, mesmo sendo o Brasil um país de moderados. Temos que mostrar que, no PSDB, esse segmento tem voz.

Como será a formação política dos candidatos tucanos LGBT? Voltada exclusivamente para esse segmento ou mais ampla?
O partido como um todo precisa de mais formação. Se observarmos grande parte dos nossos filiados, provavelmente, muitos não saberão o que é socialdemocracia. Isso precisa ser resgatado. Na militância da Diversidade, também. As pessoas precisam entender o que é um partido de centro. Hoje, o centro é vinculado ao Centrão do Congresso, mas não tem nada a ver. Estamos falando de um centro democrático, que pode ser muito radical em seus valores, mas pragmático em suas ações.

Acho que a formação precisa ser para todos. Assim, teremos candidatos que vão levantar as bandeiras que nós acreditamos. As bandeiras da socialdemocracia, das liberdades individuais, que passam pelas nossas bandeiras próprias. Então teremos candidatos que vão, sim, defender as bandeiras de políticas públicas para a população LGBT – como a questão da criminalização da homotransfobia, a questão da inclusão no âmbito da saúde e da educação, a questão do casamento civil igualitário. Mas não podemos ser monotemáticos. Quando há formação política, o candidato poderá discutir a reforma da Previdência, o modelo de Estado. Porque se não tem reforma da Previdência, não tem dinheiro para fazer políticas públicas para a população LGBT.

Todo mundo que levanta uma bandeira social, mas permite, por ação ou por omissão, que o país quebre do ponto de vista fiscal está fazendo demagogia. Política pública só acontece com dinheiro. Temos de estar preparados para este debate. Temos que discutir isso. Inclusive, existe um grupo grande da nossa população LGBT que está tendo essa discussão em outros partidos ou movimentos: no Livres, no Novo. É um grupo que sempre teve simpatia pelo PSDB. Temos que buscar essas pessoas.

Como colocar as pautas LGBT num Congresso tão conservador como o atual e com um governo também conservador?
Na verdade, nunca foi fácil.

No Congresso, há uma bancada conservadora eleita, mas que ficou muito forte a partir de um discurso de mentira da eleição. A sociedade acreditou que havia uma ameaça à família, que havia uma onda LGBT, um movimento feminista em que as mulheres ficariam todas andando sem blusa… Só que isso não vai se sustentar. Esse grupo já começa a ser questionado. As pessoas já veem que a realidade não é essa e começam a cobrar resultados práticos, que esse grupo não consegue entregar.

Então, temos de discutir com esse Congresso fortalecendo as vozes de lucidez e sensatez que existem lá dentro. Tem muita gente boa. Vamos buscar o diálogo. Política é diálogo, é conversa, é sentar e conversar sem preguiça. Se foi difícil antes e se agora está mais, o receituário é o mesmo: sentar e conversar. Há lideranças que estão dispostas. Parte delas não foi eleita com a gente, mas dá para conversar. Temos o primeiro senador LGBT da história, o Fabiano (Contarato), que é do Espírito Santo e derrotou o ex-senador Magno Malta. É um sinal de que o eleitor não é essa coisa fechada.

Grande parte do público de Bolsonaro votou nele acreditando nessa questão de combate à corrupção – que eu acho, aí sim, que é uma fake news – e na questão da segurança pública. Ele colocou tudo num pacote e foi embrulhando. Mas hoje o brasileiro quer resultado, quer emprego, quer índices sociais melhores. Essas pequenas discussões que ele coloca não são a pauta dos brasileiros. É algo de rede social.

Do portal do ITV

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