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POR AÉCIO NEVES

A defesa dos direitos das mulheres mobilizou o país nas últimas semanas. A grave crise econômica e política perdeu espaço para discussões imperativas e para campanhas que denunciam o assédio e condenam machistas, racistas e retrocessos que envergonham a sociedade.

Embora estejam cada vez mais integradas ao mercado de trabalho e ao comando de instituições, as mulheres que devem ser centro das políticas públicas ainda são as principais vítimas de preconceitos, discriminadas até mesmo na remuneração inferior a dos homens. Estão sub-representadas na política e na sociedade, o que precisa ser superado.

Neste momento de defesa e valorização das mulheres, e em meio a uma grave crise social da qual elas são grandes vítimas, é oportuno resgatarmos o legado da professora e antropóloga Ruth Cardoso.

Ela personificou um tipo de ação fundamental no país em que vivemos. Buscava o fortalecimento da iniciativa e da responsabilidade individual e coletiva. Contribuiu para a defesa das minorias e o fortalecimento dos movimentos sociais.

Com o Comunidade Solidária, ouviu a sociedade, os mais pobres. Defendia a autonomia, não a dependência. A superação, não a administração diária da pobreza. Por isso, priorizava a educação, a capacitação e a participação social.

Com uma equipe comprometida, Ruth Cardoso trabalhou movida pela convicção de que os pobres têm o direito fundamental de fazer a travessia a uma inclusão social verdadeira e permanente. Sustentável.

Acima de tudo foi uma entusiasta da parceria entre sociedade e Estado. Suas ideias nunca foram tão atuais em um tempo em que o estatismo social do PT submete as políticas sociais à perversidade da lógica e do calendário políticos.

Essencial na consolidação do Conselho Nacional dos Direitos da Mulher, criado em 1985, com seu humanismo, ela estaria hoje condenando com veemência as tentativas de coerção, abuso e violência contra cada brasileira.

Felizmente a sociedade avança pela força e mobilização das mulheres. Assistimos ao Outubro Rosa deste ano se espalhar com delicadeza e firmeza por todo país. A defesa de direitos que antes se traduzia em manifestações segmentadas, hoje une profissionais de todas as áreas e estratos sociais, mães, estudantes, negras, idosas e vítimas generalizadas de preconceitos ainda enraizados em nossa cultura.

Os desafios são enormes, mas os movimentos das últimas semanas em defesa da dignidade nos mostram que as vozes a favor dos direitos das mulheres não devem ter gênero. Precisam ser de toda a sociedade.

É importante estar e lutar ao lado delas. Sem a força, inteligência e sensibiidade femininas não há mundo que resista. Nem que valha a pena.

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