Em seu quarto mandato de deputado e prestes a completar dois anos como presidente estadual do PSDB, partido que dividiu com o PT o poder da República nas últimas duas décadas, o deputado Pedro Tobias faz um balanço do mandato, de sua atuação no comando da legenda e proclama: o PSDB precisa voltar às ruas, falar diretamente com o povo, sentir de perto as angústias da sociedade e encontrar propostas de soluções para problemas estruturais ainda não resolvidos no País.
Para isso, lidera, não é de hoje, um movimento interno que pretende arejar, oxigenar, fortalecer e redefinir os rumos de seu partido, que não conta mais, no dia a dia, com lideranças carismáticas como Mário Covas, Fernando Henrique Cardoso, Franco Montoro, entre outros.
A Carta de São Paulo, documento que lidera e quer ver escrito nos próximos dois meses, pretende dar a sacudida inicial no partido para transformá-lo, novamente, em alternativa para o eleitor paulista e brasileiro.
Embora transite com total autonomia e liberdade nos corredores do Palácio dos Bandeirantes e do Palácio 9 de Julho (Assembleia Legislativa) e tenha status de liderança estadual, Pedro é uma espécie de porta-voz do chamado baixo clero (grupo de deputados que não decidem as posições do partido ou da bancada), o que lhe confere a fama de defensor da militância e do fortalecimento partidário, em evidente contraste com a prática geral dos caciques tucanos – à exceção de Geraldo Alckmin, de perfil mais discreto e um capítulo à parte na história política de Tobias, que começou em 1988 quando se elegeu vereador pela primeira vez, pelo PDT.
Saiba um pouco mais sobre a prática e o que pensa Tobias, em 10 perguntas.
Jornal da Cidade – Como é ser presidente estadual de um dos dois maiores partidos políticos do País?
Pedro Tobias – Está sendo muito positiva a experiência como presidente estadual do PSDB porque eu pude enxergar o “atacado”, o “macro” da política, e não só o varejo. Como deputado apenas, não participamos quase nada da costura dos rumos do partido. Como presidente, aprendi muito para saber como as coisas funcionam. Relacionamento entre partidos e dentro do partido e, principalmente, administrar conflitos. Não me arrependo, me deu nova dinâmica de vida, porque hoje, 90% do meu tempo gasto em São Paulo, no partido. Quando estamos fora de qualquer núcleo decisório e de comando, achamos que é mais fácil fazer e acontecer, mas dentro é que percebemos a complexidade. Demanda muito raciocínio, paciência… É diferente.
JC – Presidir é conciliar, ser deputado é ser franco atirador, que sempre foi seu estilo…
Tobias – Como presidente do PSDB, não falo em meu nome, falo em nome do partido. Por exemplo, eleição para presidente da República, eu acho que não temos só o nome de Aécio, vejo o Serra também como potencial candidato. Lula saiu quatro vezes para chegar lá. Serra é o político mais preparado do País para governar o Brasil. Mas essa é minha opinião. Como presidente, preciso ver qual é a opinião do partido, dos deputados, prefeitos, vereadores, governador.
JC – Você está liderando no PSDB paulista um manifesto por mudanças no partido em todo o País. Nos explique melhor.
Tobias – Estamos elaborando a Carta de São Paulo. Há 25 anos não mudamos nem uma vírgula no estatuto e no programa do partido. O que queremos para o Brasil atualmente? Que regime? Presidencialista, parlamentarista… Que tipo de eleição? Com voto distrital, distrital misto ou o atual sistema… Atualmente, cada candidato, cada diretório estadual, cada militante defende uma coisa diferente. O partido precisa dizer claramente o que propõe para o Brasil. Faremos um congresso estadual para tirarmos a Carta de São Paulo, que levaremos a Brasília. Quero terminar o meu mandato realizando essa contribuição ao partido. Enviei a proposta para os diretórios do PSDB de todos os Estados brasileiros. Cada um fará seu congresso e depois nos vemos em Brasília. Esperamos fazer isso nos próximos dois meses. Um grande documento que chamamos de Carta de São Paulo. O diretório nacional do partido precisa dar uma linha geral para os líderes e militantes, com e sem mandato. Por exemplo, o PSDB não tem nem uma frase no programa do PSDB sobre sindicalismo. Hoje, em São Paulo, já temos 300 sindicalistas filiados ao partido. Quem falou que o PSDB não é um partido de sindicalista também? Não é só o PT, o PDT, o PSB… É o que mais me empolga hoje no partido.
JC – Normalmente, os presidentes de partido fazem um segundo mandato. Com o senhor será assim também no PSDB?
Tobias – O Gerado (Alckmin, governador, amigo e “irmão” de Tobias) me pediu para tentar a reeleição. Mas eu não quero. Um mandato só está bom, para oxigenar o comando. Vários deputados e militantes pedem para eu ficar, porque eu defendo o partido, bato de frente, até com o governo, então sou visto como mais independente, que garante o partido com a voz que ele precisa ter para não ser apenas uma extensão do governo.
JC – Que tipo de sistema político-eleitoral o senhor defende?
Tobias – Defendo o voto distrital misto. Não podemos ter apenas o parlamentar de varejo, que faz o leva e traz. No distrital misto, os novatos podem compor o grupo que recebe o voto distrital, para representar prioritariamente sua região, e os veteranos são eleitos por uma lista e podem ser votados em todo o Estado. Há um permanente e bom conflito entre governabilidade e partido, e isso deve ser bem administrado. É assim em qualquer partido. Sou amigo do Edinho Silva (presidente estadual do PT) e ele enfrenta isso. Como presidente do partido, tenho que defender o PSDB e nem sempre os interesses se unificam. Há atritos feios…
JC – E os políticos em geral, Pedro, como o senhor avalia?
Tobias – Eles podem fazer muito mais do que fazem. Como dizia Mário Covas, há dois tipos de políticos: os com ‘P’ maiúsculo e os com ‘p’ minúsculo. Os com ‘P’ maiúsculo pensam na próxima geração. Os com “p” minúsculo, na próxima eleição. Precisamos de muitos mais com “P” maiúsculo. A maioria só pensa na reeleição.
JC – Que marcas do Pedro Tobias ficam nestes dois anos de presidência estadual do PSDB?
Tobias – A instituição de prévias para a escolha de candidatos, tanto em municípios quanto para o Estado. Coordenações regionais, agora eleitas, que se tornaram miniexecutivas estaduais nas regiões. Não decidimos mais nada diretamente lá em São Paulo. Precisa passar pela coordenadoria regional para uma verificação e discussão. Antes existiam as coordenações regionais, mas eram nomeadas. Hoje são eleitas pelas cidades, todos os diretórios. Outra coisa: não fiz nenhuma intervenção em cidade nenhuma. Sou contra a intervenção em diretórios e comissões provisórias. É algo agressivo. Ajudamos a resolver problemas, mas sem impor nada. A autonomia das cidades tem que ser respeitada. Já chegamos a apoiar candidatos, de nosso partido, que o pessoal do governo não apoiava, porque apoiava o prefeito que disputava a reeleição, mas não era do partido. Claro que temos de ficar preocupados com a governabilidade, mas o partido tem que ser ouvido minimamente. Por isso virei líder do baixo clero. Sou amigo deles. São eles que dão vida ao partido, que não pode ficar a reboque do governo o tempo todo.
JC – Com que discurso o PSDB deve seguir daqui para frente?
Tobias – Em primeiro lugar, defender a ética na política, o tempo todo. Em segundo lugar, mostrar o que os nossos governos fazem de bom e não esconder, como fizeram com as obras do Fernando Henrique, que são a base do desenvolvimento do País até hoje. O PSDB não é um partido de escândalos, foi a melhor experiência de governo do Brasil que tivemos após a ditadura militar. Não temos que ter vergonha de nada. Nossa contribuição ao País e aos mais pobres foi a melhor. Claro que há erros, mas eles são minoria absoluta no elenco das nossas realizações. E temos que investir maciçamente em infraestrutura e educação. Sem isso o Brasil não anda mais. O restante a iniciativa privada se vira para fazer. Sou a favor da municipalização plena da educação. Tudo o que podemos fazer no município, temos que dotar as prefeituras para que elas façam. E a saúde, é claro, onde nunca podemos parar de investir e, principalmente, corrigir as tabelas do SUS. As Santas Casas estão quebrando. Antes, a União arcava com 60% e os Estados e municípios, 40%. Agora, inverteu-se esta relação. Onde o Estado não socorre, quebra. Tenho uma paciente de 22 anos que está cega por causa de diabetes. Isso em pleno século 21. Não é admissível!
JC – E o partido em Bauru?
Tobias – Eu, como presidente estadual do partido, fiquei com vergonha de não termos candidato a prefeito em Bauru. Precisamos de um partido novo, de gente nova. O povo demostra isso a cada eleição, em vários locais do País. Renovação. PSDB precisa escutar as ruas. Não adianta presidente, senador, governador, deputado ficar fazendo discurso. Vai escutar a dona Maria. Vai escutar funcionário público, operário… Escutar mais do que falar. Faltou isso ao PSDB nos últimos anos. Não temos mais grandes lideranças. Ou mudamos ou vamos ficar na mesma.
JC – E a prática da medicina, por que você não a deixou de lado?
Tobias – Porque pratico com paixão, por ideal, é a minha profissão. Não preciso dela mais para viver, mas é o que me dá mais prazer. Faço loucuras, às vezes, de tanto atender pacientes. Na semana passada, cheguei a atender 18 pacientes num dia, uma de convênio e 17 do SUS. Aliás, é o conselho que deixou aos políticos, principalmente aos mais novos: não abandone sua profissão depois de eleito. Porque senão você será obrigado a tirar seu sustento dela (política) e isso leva a coisas erradas, a vender sua alma… A maioria dos políticos larga tudo, infelizmente…