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Entrevista: O preço de ser contra o empreendedorismo

Economista e escritor Rodrigo Constantino, defensor de um modelo de economia que valoriza o empreendedorismo e a boa relação entre o Estado e o setor privado

O economista e escritor Rodrigo Constantino é defensor de um modelo de economia que valoriza o empreendedorismo e a boa relação entre o Estado e o setor privado. Mais do que isso, Constantino avalia que esse é um pré-requisito para o Brasil começar a gerar empregos de qualidade e finalmente acabar com a miséria. Na sua avaliação, a população paga um preço alto pelo péssimo relacionamento do atual governo de Dilma Rousseff (PT) com as empresas, que tem como consequência a realização de péssimos serviços, tanto do setor público quanto do privado. “Quem cria riqueza é o setor privado. Um ambiente hostil ao empreendedorismo, como temos no Brasil, é a pior coisa que existe para todos nós, especialmente para os mais pobres”, disse.

Uma semana após o leilão de privatização do campo de petróleo de Libra, ele rebateu a argumentação do governo de que a empreitada tenha sido “um sucesso”. “Chega a ser uma afronta à inteligência das pessoas afirmar que um ‘leilão’ com um só concorrente foi um sucesso”. Ele citou, como comparação, as privatizações ocorridas na época em que Fernando Henrique Cardoso era o presidente. “O formato desenhado foi mais eficiente, mais transparente. Todos os casos de privatização do passado foram positivos”, ressaltou.

Devido a esses entraves criados pelo governo, Constantino avalia que o Brasil deixou de ser “a bola da vez”, e viu a economia do País tornar-se o “patinho feio” do mundo em desenvolvimento. “Saímos da fase de euforia para a de total apatia. O Brasil é o ‘patinho feito’ agora, pois cresce menos do que os demais emergentes, e com muito mais inflação”, concluiu.

Confira na sequência a entrevista completa:

Apesar de ter registrado apenas um concorrente, o governo federal comemorou o leilão de privatização do Campo de Libra como um “sucesso”. Como o senhor avalia esse leilão, foi realmente bem sucedido?
Rodrigo – De forma alguma. Chega a ser uma afronta à inteligência das pessoas afirmar que um “leilão” com um só concorrente foi um sucesso. Leilão precisa de propostas concorrendo entre si, pois a ideia é justamente maximizar o valor do ativo vendido para os cofres públicos. O leilão de Libra foi, portanto, um fracasso. Não só teve apenas um grupo, como a Petrobras fez parte dele e, no final, arcou com 40% do total arrematado. Justamente em um momento em que a Petrobras se encontra extremamente endividada, e o ideal era transferir para a iniciativa privada tais campos para exploração. A ausência das grandes empresas privadas americanas mostra que o formato do leilão foi mal feito. Em suma, só mesmo na cabeça dos petistas é possível acreditar que Libra foi um sucesso!

Por que os leilões de privatização do atual governo tem registrado tão poucos concorrentes? O Brasil deixou de ser “a bola da vez”?
Rodrigo – Sim, o Brasil deixou de ser a “bola da vez”. Saímos da fase de euforia para a de total apatia. O Brasil é o “patinho feito” agora, pois cresce menos do que os demais emergentes, e com muito mais inflação. Mas não é apenas isso. Há também os equívocos do próprio governo na formulação dos leilões, no marco regulatório, nas constantes interferências do estado na economia etc. O PT tem um conflito com o seu DNA. Precisa privatizar, mas detesta fazer isso. O resultado é um tanto esquizofrênico: privatiza, só que os tentáculos do governo avançam rumo ao setor privado ao mesmo tempo. Isso gera desconfiança, atrai os piores grupos, mais oportunistas, e prejudica todo o processo que é de extrema relevância para o país, para reduzir o Custo Brasil e melhorar nossa infraestrutura.

Qual a importância das privatizações para a sociedade? Pode citar alguns exemplos?
Rodrigo – Como dito acima, é fundamental para reduzir os entraves de nossa economia e permitir ganhos de produtividade. Hoje temos portos, aeroportos, ferrovias e estradas em péssimo estado, incapazes de atender a demanda. A gestão estatal é incompetente, não conta com os incentivos adequados. Há ingerência política, corrupção, falta de meritocracia, excessiva burocracia. Enfim, o estado jamais foi ou será um bom empreendedor. Deve cuidar de outras áreas básicas, como segurança e justiça, mas deixar a economia mais livre. Todos os casos de privatização do passado foram positivos. Embraer, Vale, Telebras, CSN, todos! A arrecadação via impostos aumentou, a eficiência aumentou, e houve mais empregos gerados. Somente o fator ideológico explica tanta oposição ao conceito de privatização, ou então a busca pela preservação de interesses escusos que prejudicam a sociedade.

Por que quando o governo FHC privatizou a telefonia, por exemplo, a procura foi bem maior do que no atual modelo?
Rodrigo – Acredito que o formato desenhado foi mais eficiente, mais transparente. Mas FHC teve muita sorte no timing da venda também. Pouco tempo depois veio a crise da Rússia, e um pouco mais à frente estourou a bolha de tecnologia, que afetou duramente o setor de telecomunicações. O valor arrecadado com a Telebras, portanto, foi bem elevado.

Qual o preço que a sociedade paga quando o governo declara guerra às empresas, como o atual vem fazendo?
Rodrigo – Um preço muito alto, que é o de serviços piores e mais caros, e baixo crescimento econômico. Quem cria riqueza é o setor privado. Um ambiente hostil ao empreendedorismo, como temos no Brasil, é a pior coisa que existe para todos nós, especialmente para os mais pobres. O dinamismo de uma iniciativa privada funcionando com mais liberdade é o melhor caminho para a prosperidade. Somente isso pode reduzir a miséria, gerar empregos, aumentar a produtividade. Quando o próprio governo se torna o maior obstáculo na vida das empresas, com carga tributária elevada, burocracia asfixiante, intervenções arbitrárias, mudanças de regra no meio do jogo, a vida das empresas passa a ser superar tais obstáculos, o que desvia foco e energia para coisas improdutivas. Um governo enxuto e transparente, apenas observando as regras claras do jogo e deixando as empresas em paz, seria o ideal para o progresso. Muito ajuda quem não atrapalha.

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