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Esquisitices econômicas

A crise da indústria tem proporcionado situações das mais inusitadas. Enquanto o IBGE divulgava o pior desempenho da produção industrial desde dezembro de 2008, a FIESP realizava um seminário sobre oportunidades no Paraguai para alguns setores sem perspectivas de reação no curto prazo. Afinal, o custo da mão de obra, da energia e o peso dos impostos seriam até 35% mais baixos por lá.

 Em entrevista à revista Dinheiro, o embaixador Rubens Barbosa, presidente do Conselho de Comércio Exterior da FIESP, explica que seria mais vantajoso para setores como moveleiro, têxtil e calçadista se o Brasil vendesse matérias primas ao vizinho e importasse de volta os produtos lá fabricados – desde que reintegremos o Paraguai ao Mercosul, de onde foi espinafrado ao se livrar do presidente Lugo.

A insistência do Brasil em lançar o embaixador Roberto Azevêdo à direção-geral da Organização Mundial do Comércio também causa espanto. Em 2012 o PIB brasileiro foi 8º maior do mundo, mas o valor das exportações ficou apenas no 24º lugar. Já a fatia da importação de bens e serviços no PIB foi de 13%, a menor entre 176 países, contra 54% da Coréia do Sul, 45% da Alemanha e 27% da China.

O fato do Brasil ser um dos países mais fechados ao comércio internacional condiz com a política de proteção a setores favorecidos, não com a pretensão de dirigir a OMC.

EUA e União Europeia, assim como China, Japão e Coréia do Sul, além de México, Peru, Colômbia e Chile, estreitam relações comerciais, integrando suas economias às cadeias produtivas globais. Já o Brasil, que almeja ser o manda-chuva do pedaço, fechou três acordos bilaterais em 20 anos: com Israel, Palestina e Egito.

O mais bizarro, no entanto, foi a indecisão do governo na semana passada sobre a criação da nova estatal das hidrovias e portos. Primeiro, o superintendente da Antaq confirmou a criação da Empresa de Desenvolvimento Hidroviário (EDH). Mais tarde, um assessor da presidência disse que a nova estatal, ainda em “amadurecimento”, sairia só no 2º semestre. Depois, o ministro da Secretaria de Portos a descartou.

Entre nós: enquanto protelamos as reformas econômicas estruturantes, tais esquisitices não são propriamente um estímulo à confiança geral. Pior que isso é a proliferação de estatais. A Hidrobrás, anunciada e abortada no mesmo dia, teria por modelo a Empresa de Pesquisa Energética (EPE), aquela cujos projetos de geração e transmissão de energia têm 66% de atraso. Por ora, escapamos.

José Aníbal é economista, deputado federal licenciado (PSDB-SP) e secretário de Energia de São Paulo.

 

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