O conselho político proposto para “apaziguar” os ânimos entre as principais lideranças do PSDB, que a imprensa atribui ao ex-presidente Fernando Henrique Cardoso, existe na prática desde a origem do partido em 1988. O PSDB nasceu como um partido de quadros políticos expressivos na política nacional, que acumulavam experiências executivas em governos estaduais e municipais, no senado e nos parlamentos federal e estadual. Costumeiramente aparecem notícias sobre conflitos internos, em todas as mídias, que não tenho dúvida fruto de fuxicos e opiniões nada relevantes de lideranças políticas tucanas, intermediárias, quase sempre disponíveis para repórteres e analistas políticos da imprensa.
Não escondo o sol com a peneira, em relação às notícias negativas que emergem do próprio PSDB, localizando insatisfações pessoais e partidárias, quando se imaginam excluídos de alguma discussão ou processo de decisão. Os atuais dirigentes do partido são responsáveis pela sensação permanente de crise, justamente porque faltam respostas mais rápidas tanto à conjuntura política nacional, quanto às movimentações dos projetos eleitorais pessoais, que não deixam de ter legitimidade.
Estou sempre me perguntando, antes de qualquer tomada de posição para definir quem conduzirá o PSDB, sobre o quê nos conduz a esse partido. O compartilhamento da militância política ao lado de Fernando Henrique Cardoso, José Serra, Geraldo Alckmin, Aécio Neves, Marcello Alencar, Marconi Perillo, Beto Richa, Tasso Jereissati, Teotônio Vilela, Arthur Virgilio, Álvaro Dias, Duarte Nogueira, Sérgio Guerra, Mendes Thame e tantos outros, ou a identidade com as suas ideias de fazer o Estado ser mais eficiente? As respostas são conciliáveis e mobilizadoras.
Mais que um conselho político inscrito na organização do PSDB, hoje há uma vontade generalizada de ouvir ideias e conselhos dos mais experientes, num mesmo sentido, que reafirme a nossa missão não cartorial e reconstrua as bases políticas para reconquistar a presidência da República, não importa, neste momento, sob a liderança de qual nome numa chapa em 2014. Temos tarefas mais urgentes e principais, com o fortalecimento do discurso de oposição no Congresso Nacional e a conquista das principais prefeituras e vagas de vereadores em todo o país.
O PSDB não é uma agremiação política de comportamento bipolar. Começamos a acreditar que existe uma crise interna, convencidos pela massificação da informação artificial de que não somos capazes de pensar e agir conjuntamente. Se as decisões mais agudas são mais complicadas e difíceis para a atual geração de conselheiros informais, o momento das convenções partidárias em todos os níveis é o mais adequado para tomar partido pela valorização dos núcleos de base e pelo processo democrático de ouvi-los a partir de agora e com freqüência.
Quem sou eu para discordar de FHC, em relação às “fórmulas” de paz que lhe atribuem, mas não posso deixar de sugerir que valeria a pena considerar a opção exitosa na fundação do PSDB, em 1988, quando estabeleceu que a presidência do partido fosse ocupada em rodízio e assim aconteceu, com Mário Covas, José Richa, Fernando Henrique e Franco Montoro. Que tal transpor essa alternativa para os nomes do presente e propagar como um mantra – “não vamos nos dispersar. Continuemos reunidos, como nas praças públicas, com a mesma emoção, a mesma dignidade e a mesma decisão” – palavras de Tancredo Neves?
Raul Christiano, 52 anos, jornalista, escritor, poeta e professor universitário. Dirigiu o Programa Bolsa Escola Federal (Governo FHC), Superintendência de Comunicação da CDHU (Governo Geraldo Alckmin) e Superintendência de Comunicação da SABESP (Governo José Serra). Coordenador de Comunicação da Secretaria dos Transportes Metropolitanos. Visite: www.raul.blog.br