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Gás para crescer

O último leilão de petróleo e gás, realizado há duas semanas, foi um sucesso. Os investimentos previstos, da ordem de R$ 7 bilhões, indicam o interesse e a importância estratégica desses combustíveis para a economia.

Só não se pode dizer que o resultado foi uma surpresa. Aguardado há pelo menos cinco anos, a licitação organizada pela Agência Nacional de Petróleo (ANP) responde parte das expectativas do setor, mas restam, ainda, muitas lacunas a serem preenchidas no campo energético.

 Infraestrutura e energia são pródigas em exemplos que rejeitam o pensar na véspera, prescindem do planejar. Tanto que atraso em obra, no Brasil, já é quase um pleonasmo. Onde há uma obra, há um atraso. E milhões de reais desperdiçados em orçamentos que têm de ser revistos incontáveis vezes. Os responsáveis pela construção de Belo Monte já pedem, por conta dos “imprevistos”, um aditivo no contrato de cerca de R$1 bilhão.

 Em São Paulo temos procurado fazer o oposto, prever, planejar. Há alguns meses divulgamos estudos que destacam os potenciais para uso de energia eólica e solar no Estado. No caso dessa última, o custo de geração ainda é mais elevado do que das demais, mas como tudo é uma questão de evolução tecnológica, em breve será uma fonte economicamente competitiva.

A próxima aposta vem do solo, debaixo dele, na verdade. Estudos solicitados pela Secretaria de Energia ao IPT (Instituto de Pesquisas Tecnológicas) reafirmaram a vocação gasífera da Bacia do Paraná, apontando a presença de reservas de gás de xisto (shale gas) no Estado de São Paulo. Nossa expectativa é que o resultado favoreça a criação de um ambiente propicio à atração de investimentos nas atividades exploratórias e produtivas deste energético, que permitam a confirmação desta potencialidade.

Comercializado nos Estados Unidos a US$ 2,7 por milhão de BTU (medida de referência internacional que designa British Thermal Unit), o shale gas tem causado um grande impacto na economia norte-americana, motivada, principalmente, pelo setor industrial, mas atingindo também outras áreas, como transporte, por exemplo.

 O valor médio do gás (nacional e importado) comercializado no Brasil, em 2012, variou entre US$ 12 e US$ 16 por milhão de BTU. Ou seja, cerca de cinco vezes mais elevado que o custo do gás de xisto nos Estados Unidos.

Expressiva demais para ser ignorada, essa diferença de custos fez soar mais um alarme sobre a indústria brasileira. Grande consumidora de energia em seus processos, a competitividade da indústria está diretamente relacionada ao preço dos energéticos, que podem representar até 35% do custo da produção!

 Portanto, não podemos mais viver da promessa de que um dia teremos autossuficiência de petróleo e que nesse dia tudo dará certo. Ainda que isso aconteça — e todos queremos que seja em breve — é preciso apresentar alternativas, boas o suficiente para convencer os investidores a virem ou a permanecerem no Brasil hoje, agora.

 Oferecer uma cesta de opções energéticas, diversificada e com custos adequados, costuma ser um argumento bastante importante numa negociação. Por isso, contamos com a possibilidade de termos blocos de gás de xisto licenciados para exploração no território de São Paulo, o que deve acontecer a partir do leilão da ANP programado para o final do mês de outubro.

 Senão pela importante presença de indústrias no Estado, mas também pelos dados apontados no estudo do IPT, São Paulo não abre mão de incluir, em sua matriz energética, mais uma opção para o desenvolvimento: o gás de xisto.

José Anibal é economista, deputado federal licenciado (PSDB-SP) e secretário de Energia de São Paulo

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