A velha tática petista de apelar à contabilidade criativa como artifício para manter a economia sob controle é um desrespeito aos brasileiros, criticou o deputado José Aníbal (SP) nesta terça-feira (2). “É uma enrolação. Temos que acabar com isso. O Brasil é um país democrático, que evoluiu para uma moeda estável. Tem que fazer jogo aberto. Isso aqui está parecendo a república da banana”, disse o parlamentar ao comentar o resultado da balança comercial de agosto, que fechou com superávit de US$ 1,168 bilhão graças a uma operação contábil promovida pelo governo.
Para inflar o resultado, a equipe econômica contabilizou como exportação a venda de uma plataforma de petróleo no valor de US$ 1,1 bilhão. A operação, no entanto, ocorreu apenas no papel. Houve troca de titularidade do bem entre uma empresa nacional e uma sediada no exterior, mas o equipamento permanece no país na forma de leasing ou afretamento.
Embora legal e realizada de acordo com uma instrução normativa da Receita Federal, a estratégia distorce os números de um indicador muito importante para a economia. “É maquiagem”, enfatizou Aníbal. “Nossa presidente fracassou. Ela prometeu inflação sob controle, mas a carestia está aí. Prometeu um Brasil com contas em ordem, mas as desordens são cada vez maiores, inclusive, com essa especialidade na qual os petistas se tornaram professores muito competentes, a contabilidade criativa”, completou o tucano.
Amparado pela legislação, o governo não se intimida diante das críticas e tem recorrido continuamente a essa estripulia. Em 2013, exportou no papel, pelo menos, sete plataformas, que garantiram US$ 7,74 bilhões a mais na balança comercial. Sem esse apoio, o Brasil teria registrado déficit de US$ 6,7 bilhões. Em 2012, foram registradas exportações de três plataformas a um total de US$ 1,457 bilhão. “Isso é próprio de um governo que está à deriva e perdido. Não pode. O país é mais que um governo”, disse o parlamentar do PSDB.
EM QUEDA– A manobra adotada pelo governo rompeu uma sequência negativa registrada ao longo de 2014. Pela primeira vez no ano, a balança comercial ficou positiva em US$ 249 milhões.
O desempenho, ainda que razoável no geral, não consegue camuflar os vários dados negativos da balança comercial. Caíram em agosto as importações de bens de consumo (8,2%), bens de capital (7,3%) e matérias-primas e intermediários (1,1%).
No segmento bens de capital, recuaram importações de itens como equipamento móvel de transporte e maquinaria industrial. Em bens de consumo, as principais quedas foram observadas nos gastos com máquinas e aparelhos de uso doméstico, automóveis, móveis, entre outros. Já em matérias-primas e intermediários, decresceram as compras externas de acessórios de equipamento de transporte, produtos agropecuários não alimentícios, minerais, químicos e farmacêuticos.
As exportações também encolheram. Para o Mercosul, houve recuo de 21,4% no mês passado em relação a agosto de 2013, sendo que para a Argentina a queda foi de 32,8%. Para a União Europeia, a retração chegou a 2,1%. As vendas externas também caíram para mercados com expansão nos últimos meses. Em agosto, os embarques para a Ásia caíram 9% e, para a China, 18,3%. Para os EUA, um mercado que tem mostrado recuperação, a retração foi de 1,2%.
ESTAGNAÇÃO – A performance da balança comercial fortalece a perspectiva negativa de que o Brasil fechará o ano com o Produto Interno Bruto (PIB) praticamente estagnado. Boletim Focus divulgado na segunda-feira (1º) pelo Banco Central mostrou que, para mais de 100 instituições financeiras, o crescimento da economia brasileira em 2014 será de aproximadamente 0,52%. Percentual menor do que apresentado na semana anterior, que era de 0,70%.
De acordo com o Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE) e economistas, o país já vive em recessão técnica. Isso porque o PIB dos dois últimos trimestres foi negativo. Entre abril e junho, encolheu 0,6% quando comparado aos três primeiros meses do ano.
A indústria é a principal atingida pelos dados negativos, especialmente a automobilística. Segundo números divulgados pela Federação Nacional dos Distribuidores de Veículos Automotores (Fenabrave), as vendas caíram 17,12% em agosto, no comparativo com o mesmo mês do ano passado. Diante de julho, a queda foi de 7,6%.
O resultado de agosto aumenta para 9,7% a queda no acumulado do ano, que estava em 8,6% até julho. Entre janeiro e agosto, as vendas somaram 2,23 milhões de veículos, o pior volume em quatro anos entre períodos equivalentes.