O Deputado Federal Alberto Goldman (PSDB-SP) subiu à tribuna da Câmara dos Deputados, nessa quarta-feira (20/12), para se despedir. Após seis mandatos na Câmara federal, Goldman assume nova função pública a partir do dia 1º de janeiro de 2007: será vice-governador de José Serra, no Estado de São Paulo e comandará a Secretaria de Ciência e Tecnologia e de Desenvolvimento Econômico.
Leia a íntegra do discurso de Goldman em sua despedida:
Colegas deputados, companheiros de luta
Despeço-me com um misto de tristeza e de alegria. Tristeza por estar deixando o convívio no Congresso Nacional com figuras que aprendi a admirar e por estar deixando a Casa que me acolhe há 24 anos e na qual reconheço o melhor instrumento para concretização da democracia. Alegria por estar assumindo novos desafios, dentre eles, o de participar do governo do Estado de São Paulo, ao lado do governador José Serra, na qualidade de vice-governador e, devo confessar, por ter chegado a um estágio em que, me parecia, limite das minhas possibilidades de contribuir para o nosso país, na função parlamentar.
Aqui conheci o Brasil, em todas as suas facetas, as suas potencialidades e suas dificuldades. Aqui, com todas as deficiências de representação da sociedade – um espelho, ainda que com grandes distorções – reconheço o Brasil com seus melhores e com seus piores homens e mulheres, a luta pelo interesse público, de um lado, e por interesses privados, por outro. Aqui se encontram as visões ideológicas mais diversas, e aqui se fazem os embates que vão definir o nosso futuro. Mas é aqui que se constrói, para o bem ou para o mal, o futuro do Brasil. É para aqui, pois, que devem se voltar os nossos melhores esforços para fazer o país avançar, em todos os sentidos.
Meu primeiro pronunciamento nesta Tribuna, foi com 41 anos de idade, em 1979, após dois mandatos de deputado estadual em São Paulo. Hoje, nesta despedida, tenho 69 anos de idade. Sinto-me realizado. Estou em paz comigo mesmo. Vivi a vida como entendo que ela deve ser vivida. Com honradez, perseguindo dias melhores para o nosso povo.
Lutei, na década de 70, como deputado estadual, para derrotar uma ditadura que infelicitava e envergonhava o nosso país, como uma voz que procurava representar o anseio de liberdade e democracia e que procurava preservar a vida de centenas de brasileiros, patriotas e dedicados ao nosso povo. Nem sempre fui feliz nessa tarefa, como no caso de dezenas de combatentes assassinados, como nos casos de Wladimir Herzog e de Manoel Fiel Filho. Mas, ao ajudar a construir o MDB, na época, e o PMDB, depois, ainda militando no clandestino PCB, pude ajudar a aglutinar os democratas desse país como estratégia principal para derrotar o regime militar. Vi muitos caindo, mas vi muitos se mantendo em pé para chegarmos até onde chegamos.
Como símbolo, dentre os milhares de homens e mulheres anônimos que participaram dessa luta, homenageio um homem simples, o pernambucano Amaro Cavalcanti de Albuquerque, que dedicou ao seu povo a sua vida de homem simples e de militante comunista, e que teve seu tempo de vida reduzido como conseqüência das torturas que sofreu nos porões da ditadura resistindo, com o risco da própria vida, como muitos outros o fizeram, para não denunciar seus companheiros, inclusive o deputado que vos fala.
A partir de 1979, como deputado federal me mantive ao lado daqueles que levaram o regime militar à derrota e construíram o caminho da redemocratização e, em 1986, da convocação da Assembléia Nacional Constituinte da qual não pude participar, pois o meu então partido, o PCB, já legalizado, não elegeu representantes no Estado de São Paulo.
Passados quatro anos, período em que me foi permitido participar do governo de São Paulo, conhecendo em profundidade a máquina pública, como candidato do PMDB, voltei para a Câmara dos Deputados, até este momento em que me despeço.
Convivi, então, com centenas de parlamentares da melhor qualidade, durante os Governos de Collor de Mello, Itamar Franco (no qual, durante 14 meses, tive a honra de ser Ministro dos Transportes), Fernando Henrique Cardoso e Luiz Inácio Lula da Silva.
Minha tarefa principal, à qual me dediquei de corpo e alma, foi consolidar as conquistas democráticas e participar das transformações que se iniciaram para que o nosso povo pudesse ter um futuro melhor. Então no PMDB e, depois, no PSDB, meu atual partido, do qual me orgulho, procurei diagnosticar as razões, pelas quais o nosso desenvolvimento não correspondia às nossas potencialidades. Entendi, como entendo ainda hoje, que o estado brasileiro estava a serviço das camadas privilegiadas da nossa sociedade, impedindo o acesso de milhões a uma vida mais digna. Apostei, permanentemente, na construção de estruturas político partidárias mais consistentes e conseqüentes e nas reformas econômicas do Estado para que o crescimento do nosso país pudesse ter maior velocidade e que o produto do crescimento pudesse ser usufruído pela maioria do nosso povo. Essa luta está apenas no início e, sinto dizer, foi retardada pela paralisia que o país sofreu, e vem sofrendo, sob a direção dos atuais governantes. Mas tenho a certeza de que é apenas um hiato, ainda que seja uma pena a perda de tempo, no caminho inexorável de nosso país para um futuro venturoso. Nos próximos anos não estarei mais nesta Tribuna, nem a ela penso voltar. Mas ela tem homens e mulheres, de diversos partidos, da melhor qualidade, para prosseguir na luta. Não vou para a aposentadoria. Estarei, em outra trincheira, trabalhando com os olhos voltados para os mesmos objetivos que me levaram à vida política e que nela me deram tantas vitórias e alegrias.
Minhas últimas palavras, aos meus eleitores, ao meu partido, ao meu povo, a meus companheiros de trabalho e à minha família.
Aos meus eleitores, a certeza de que honrei a sua confiança, com honradez, com afinco e com todas as minhas forças e minha capacidade. Cumpri, com minha consciência, dentro de minhas limitações, as tarefas a que me propus.
Ao meu partido, o PSDB, herdeiro das melhores tradições das lutas democráticas e dos anseios por um país mais justo, apelo por um esforço supremo no sentido da construção de uma estrutura apta a enfrentar os desafios e de um projeto de Nação digno de nosso futuro.
Ao meu povo, a certeza de que, com muita luta, muitas alegrias e tristeza, vitórias e derrotas, chegaremos a dias melhores.
Aos meus companheiros de trabalho o agradecimento pela solidariedade que nunca me faltou e pela paciência em relevar o meu jeito de ser.
À minha família, minha mulher e meus filhos, as minhas desculpas pelas minhas ausências e pelas tensões que os obriguei a passar, com a certeza de que podem se orgulhar do marido e pai que lhes deu tão pouco porque sempre seu pensamento era tomado pelos anseios do povo brasileiro. E aos meus pais, já falecidos, humildes imigrantes que encontraram nessa terra o seu sonho de felicidade, que me ensinaram o valor da honestidade e do bom caráter e que tudo deviam, como sempre diziam, ao generoso povo brasileiro, e que me permitiram viver a vida que tenho vivido nesse amado país.