“Graça Foster sabia das falcatruas do petrolão e nada fez. Caiu por terra a defesa que o Ministro da Justiça, José Eduardo Cardozo, fez da atual gestão da Petrobras, pressionado pela presidente Dilma Rousseff após Rodrigo Janot [Procurador-geral da República] ter pedido o afastamento de toda a diretoria. Isso só reforça a instalação de uma nova CPI em 2015″.
Foi assim que reagiu o líder do PSDB no Senado, Aloysio Nunes Ferreira (SP), ao comentar reportagem do jornal Valor Econômico segundo a qual a diretoria foi alertada sobre irregularidades em contratos da estatal muito antes do início da Operação Lava Jato, deflagrada em março deste ano.
De acordo com o Valor, a geóloga e gerente da empresa Venina Velosa da Fonseca enviou mensagens e documentos diversas vezes para Graça Foster, Paulo Roberto Costa (ex-diretor de Abastecimento) e José Carlos Cosenza (atual diretor de Abastecimento) e não foi tomada nenhuma providência.
Quando prestaram depoimentos à CPMI da Petrobras, a presidente da estatal e o atual diretor de Abastecimento sempre negaram saber de qualquer irregularidade. Porém, Graça admitiu em 17 de novembro que foi informada dos desvios em maio passado. Ou seja, ela não disse a verdade quando prestou depoimento à CPMI em junho nem quando informou a data em que foi comunicada.
E-mail obtido pelo Valor desmente a versão dela. Em mensagem enviada em outubro de 2011, a geóloga escreveu para a então diretora de Gás e Energia:
“O que aconteceu dentro da Abast (Diretoria de Abastecimento) na área de comunicação e obras foi um verdadeiro absurdo. Técnicos brigavam por formas novas de contratação, processos novos de monitoramento das obras, melhorias nos contratos e o que acontecia era o esquartejamento do projeto e licitações sem aparente eficiência”.
Venina também joga por terra a negativa de Cosenza. Em 10 de abril de 2014, ela o avisou sobre perdas que podiam chegar a 15% do valor da carga de petróleo e óleo combustível. Esse percentual equivale a milhões de dólares, considerando que apenas o escritório de Cingapura pagou dividendos de US$ 200 milhões, em 2013. O lucro líquido da unidade atingiu US$ 122 milhões até outubro deste ano. Novamente, não houve resposta por parte do diretor sobre o que fazer com relação a perdas de milhões de dólares.
Apenas Paulo Roberto assumiu participar do esquema e o detalhou em delação premiada.
A geóloga, que trabalha na petrolífera desde 1990, começou a apresentar denúncias quando era subordinada a Paulo Roberto como gerente executiva da Diretoria de Abastecimento, entre novembro de 2005 e outubro de 2009. Afastada da estatal em 19 de novembro deste ano, Venina vai depor ao Ministério Público, em Curitiba, onde tramita o processo da Lava Jato.