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Hidrovia e ferrovia: modais baratos e eficientes

Por José Eduardo Amantini 

Diante do quase colapso do abastecimento de combustíveis em todo o país, causado principalmente pela greve dos “caminhoneiros autônomos e de grandes empresas transportadoras”, é, mais uma vez, momento adequado para governos e a população refletirem sobre o quase monopólio e caro modelo de transporte rodoviário intensificado no Brasil nas últimas décadas.

Ao contrário da Europa e dos Estados Unidos, que não tem uma dependência tão forte do transporte rodoviário porque investiu pesado em outros modais, como hidrovia e ferrovia, os governos brasileiros adotaram políticas que privilegiaram o fortalecimento de uma corporação em detrimento do interesse público, como acontece agora nesta paralisação cujo o governo já fraco tornou-se ainda mais refém de uma categoria que, em nome da população, busca, na verdade, aumentar os lucros das grandes empresas de transportes de cargas. E quem pagará os novos bilhões de reais em subsídios concedidos pelo governo ? É claro, como sempre, nós, cidadãos brasileiros, vítimas de políticas equivocadas dos governos, que nos obrigam a trabalhar cada vez mais para fortalecer as corporações, sejam elas públicas ou privadas.

Então, pergunto : por que o Brasil não resgata a ferrovia e amplia investimentos da hidrovia para consolidar esses dois importantes modais  como alternativas viáveis de transporte de cargas e de passageiros no país ? Sugiro que este questionamento seja respondido pelos pré-candidatos à Presidência da República, pois acredito que, diante da atual crise, essa pauta deverá ser amplamente debatida por eles e, nós, cidadãos cobrá-los para assumir este compromisso de interesse nacional.

A hidrovia Tietê-Paraná, por exemplo, tem mais 2.400 quilômetros navegáveis passando por vários estados produtores, como São Paulo, Minas Gerais, Goiás, Mato Grosso e Rondônia. Esse modal é fundamental para o transporte de cargas em longas distâncias, pois, se comparado ao rodoviário, consome menos combustível e polui bem menos. Além disso, sua operação é de baixo custo. Uma barcaça pode transportar até 1,3 mil toneladas, volume que seria suficiente para lotar 25 caminhões. Calcula-se que seus gastos equivalem a um terço daqueles com uma rodovia.

Assim como a hidrovia, as ferrovias também podem impulsionar a infraestrutura brasileira e reduzir os gargalos logísticos do Brasil. Mas, para isso, os governos precisam muito mais do que boas intenções. É preciso planejamento estratégico, algo que não acontece há pelo menos três décadas.

Uma rede ferroviária ampla e interligada, assim como a hidroviária, beneficiaria todo o processo produtivo e o escoamento das exportações brasileiras, diminuindo o “custo Brasil” e tornando nossos produtos mais competitivos. Um estudo do professor da EAESP/FGV, Gesner Oliveira, e do diretor do Ipea, Fabiano Pompermayer, mostrou que as ferrovias representam apenas 15% da estrutura de transportes no Brasil, um percentual considerado baixo. Já a predominância do transporte rodoviário (65% do total) atrapalha o trânsito nos grandes centros, é mais poluente, deixa as empresas suscetíveis a roubos de cargas, custa mais caro e leva a mais acidentes.

Além de tornar o custo-Brasil mais competitivo nos mercados interno e externo, a utilização em massa das ferrovias iria melhorar a qualidade de vida da população, pois o transporte rodoviário é responsável por 95% das emissões de gás carbônico, enquanto o ferroviário representa apenas 5%.

Enfim, a qualidade da vida urbana está associada à qualidade da mobilidade. E, neste contexto, as ferrovias e as hidrovias desempenham função primordial para o desenvolvimento socioeconômico sustentável do país. Até a nossa Região Administrativa de Bauru, composta por 39 municípios, teria um grande salto em sua qualidade de vida se os futuros governos investissem pesado na ferrovia e na hidrovia, pois estamos em um privilegiado entroncamento destes importantes e baratos modais de transporte que garantem rapidez, segurança, turismo e desenvolvimento sustentável. Acorda Brasil !

José Eduardo Amantini é jornalista, ex-presidente do Consórcio Intermunicipal dos Vales Tietê-Paraná e ex-prefeito de Itapuí

 

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