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História para não envelhecer o “novo”

Por Thereza Collor 

O que é esse novo “novo”?, eu me pergunto lendo o noticiário. A última moda na passarela da política nacional tem sido chamada simplesmente de “novo”.

Nada é mais velho no Brasil do que o extrativismo político e a roubalheira pública disfarçados de projeto de país. Quando, quase 26 anos atrás, surgi, ao lado de Pedro Collor (1952-1994), nesse cenário, denunciei sem medo o velho novo de que se falava. Pensávamos que ajudaríamos a modificar esse sistema vetusto que assalta impostos, enquanto amplia a exclusão social travestindo-se de novidade.

Avançamos desde então, é verdade. Até aqui se passaram dois justos impeachments presidenciais. Só que ainda não trocamos a velha roupa. Hoje, na ânsia de enterrar a velha política, as atenções se voltam, como sempre, para o nome do futuro presidente. Mas tem se falado muito pouco do poder que realmente sustenta o velho no Brasil: o Congresso Nacional, que a cada dia amplia mais sua função de balcão de negócios. As velhas raposas aprimoraram sua escola. Com essa patifaria, nem Cristo, nem Buda, nem nenhum iluminado renovaria a nossa política.

O povo brasileiro sofre com o baixo nível de educação, mas é sábio. Temos assistido a um crescente descrédito em relação à atuação do Congresso Nacional.

Recentemente, a série histórica do Datafolha mostrou que só 5% da população aprovam o desempenho dos atuais 513 deputados federais e 81 senadores. A rejeição chegou ao triste recorde de 60%, superando até a sensação popular do segundo semestre de 1993, no auge do escândalo dos anões do orçamento, logo após o impeachment de Fernando Collor –quando 56% rejeitavam o trabalho dos parlamentares.

A cada dia, a corrupção e a falta de transparência e de empatia aumentam o descrédito do Congresso. Levantamento recente, realizado pela Ideia Big Data para o Brazil Institute, do Wilson Center, aponta que, para 84%, os membros do Congresso não representam o povo brasileiro e, para 73%, eles não trabalham pelos interesses da nação.

O brasileiro mostra que sabe bem o que é esse “novo”, a cada dia mais ansiado: 72% dos eleitores querem votar em candidatos a deputados ou senadores honestos. A mesma pesquisa, no entanto, mostra que a maior parte dos brasileiros sofre de amnésia pós-eleitoral: 79% dos eleitores não se lembram em quem votaram para o Congresso em 2014.

É necessário, neste momento em que se deseja uma nova política, que os eleitores se lembrem, sim, em quem votaram e escolham seu representante com base no que eles fizeram ao país. O novo é o que não reproduz o vício do velho. Precisamos identificar o velho e definir o que é realmente novo.

É um momento de crise. Crise traz a ideia do juízo que vem desse incômodo com o velho. Aproveitemos, então, para nos livrar dos velhos costumes, para separar a retórica vazia da verdadeira ideia nova.

Aproveitemos, pois, a crise para delimitar o que é novo de verdade. E renovemos, agora e com profundidade, nossa política. Façamos um juízo adequado, que se baseie na memória do país. Do contrário, nosso sistema de representação estará ameaçado e entregue de vez ao que não nos serve mais. Não basta eleger supostas novidades.

É muito difícil modificar velhos mecanismos, extinguir o poder de oligarquias. Muitos deverão ainda se eleger vestindo a roupa do novo, apenas para manter tudo exatamente como é. Por isso, é necessário abrir os olhos e focar na política do cotidiano, monitorando realmente cada mandato, cobrando honestidade, transparência e empatia social. Se o brasileiro buscar a honestidade na própria memória de sua participação política, talvez saiamos dessa crise —e com algo realmente novo.

MARIA THEREZA PEREIRA DE LYRA COLLOR DE MELLO HALBREICH – Conhecida como Thereza Collor, 55, é historiadora; foi casada com Pedro Collor, morto em 1994, e o ajudou a denunciar o esquema de corrupção do governo de Fernando Collor, então seu cunhado, em 1992
Artigo publicado pelo jornal Folha de S. Paulo em 20/03/2018
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