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Indústria de guerra pela vida

Por José Serra, Barjas Negri e ex-ministros da Saúde

O maior de todos os desafios que a pandemia de Covid-19 nos impõe diz respeito à nossa capacidade de organização solidária para minimizar a carga de sofrimento associada ao adoecimento, ao colapso dos sistemas de saúde e à morte de muitos. Além do evidente papel de liderança e de coordenação dos governos, do trabalho heroico dos profissionais de saúde e da comunidade científica na busca de um protocolo de tratamento, precisamos de uma indústria de guerra para enfrentar o novo coronavírus.

O setor produtivo tem demonstrado enorme capacidade criativa e de resolubilidade para diversos problemas enfrentados pelo mercado. A oportunidade agora é de se reorganizar internamente e de se posicionar entre os parceiros estratégicos da sociedade, produzindo os insumos essenciais para a proteção das equipes de saúde e hospitais: respiradores, testes laboratoriais, máscaras, lençóis, luvas, uniformes, álcool em gel.

A Política Nacional de Proteção e Defesa Civil dá competência ao governo para estimular a reorganização do setor produtivo e econômico das áreas atingidas por desastres. Ou seja, já dispomos dos instrumentos legais para o governo definir prioridades e coordenar as ações. É hora de a indústria juntar-se em um único esforço e fortalecer a saúde pública representada no Brasil pelo Sistema Único de Saúde, o SUS.

Existem 25,2 mil empresas do segmento no Brasil, que empregam 1,5 milhão de trabalhadores diretos e 8 milhões indiretamente. O potencial é enorme, pois não se trata de produto de fabricação complexa e há alta demanda. Além disso, há insumos suficientes no Brasil para a produção desses itens.

Há empresários reinventando a sua conexão com seus consumidores e dispostos a preservar os laços estabelecidos com os seus funcionários treinados e experientes, porque acreditam que isso pode acelerar a recuperação das suas empresas depois que a pandemia passar.

São iniciativas como essas que a sociedade espera do setor privado. O chamamento feito pela Organização Mundial da Saúde e pela Câmara Internacional de Comércio ao setor industrial é que encare o combate à Covid-19 como a maior convocação que já recebeu em toda a sua história. É urgente o estabelecimento de ações coordenadas do setor privado com os governos, não somente para traçar cenários econômicos futuros, mas também, e principalmente, para atuarem já, na diminuição da velocidade com que o vírus se propaga e para mitigar os seus impactos.

Chegou a hora de saber a quem servimos para que, ao final, não haja dúvidas sobre para o que servimos. Estamos vivendo um momento de guerra contra o coronavírus. O front desse combate é o SUS, e a indústria brasileira precisa garantir que não falte “munição” para os profissionais de saúde nessa guerra pela vida.

José Serra
Barjas Negri
Humberto Costa
José Gomes Temporão
Saraiva Felipe
Alexandre Padilha
Arthur Chioro
Marcelo Castro
Agenor Álvares

Ex-ministros da Saúde

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