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Isolamento de Dilma põe em risco resto do mandato

Os últimos episódios da crise política em que estamos vivendo são preocupantes.  Crise política, sim, pois a presidente Dilma Rousseff, após ver a sua popularidade e a avaliação de seu governo despencarem, após poucas semanas, a níveis inimagináveis, passou a enfrentar um isolamento poucas vezes visto em nossa história política.  E esse isolamento põe em risco, para o país, o resto das condições que ela tem para governar até o final de seu mandato.

Como reação às manifestações populares em todo o Brasil, iniciadas em protesto contra o aumento das tarifas do transporte coletivo, a presidente decidiu, de afogadilho e assessorada por ministros sem um mínimo de sensibilidade e de orientação legal e política, sob o virtual comando do seu guru na área de comunicação, João Santana,  propor cinco pactos, e uma reforma política, que seria feita com convocação de uma Assembleia Constituinte e a realização de um plebiscito, com validade para  as eleições de 2014.

Um verdadeiro desastre.  A ideia de Constituinte não se sustentou por 24 horas e o plebiscito para valer em 2014 foi repelido pelos próprios partidos da base do governo    (à exceção do PT), poucas horas depois de recebida pelo Congresso a mensagem da Presidente em que ela sugere os temas da reforma para serem consultados.  Segundo os partidos, um plebiscito sobre matérias eleitorais só poderia valer a partir de 2016.

Poucas vezes se viu uma humilhação e um isolamento tão profundos. Mesmo o PT se dividiu na avaliação da proposta da Presidente.  E o responsável por toda a mixórdia por que passa o país, o Lula, segundo os jornais, cinicamente, sugeriu que ela se dedicasse a diminuir e extinguir ministérios para enfrentar a crise de gestão.

Todos eles andam como baratas tontas, sem saber como enfrentar os verdadeiros problemas que afligem os brasileiros: inflação, paralisia da produção industrial, baixos investimentos, infraestrutura em situação precária e serviços públicos essenciais para a população que não correspondem às necessidades e às expectativas do povo.

Todos sabem da necessidade de realizar uma profunda reforma política.  É preciso acabar com a montanha de partidos que existe apenas para negociar tempo de televisão e rádio e obter dinheiro fácil distribuído pelo orçamento da União; com o sistema eleitoral proporcional que permite que sejam eleitos parlamentares sem qualquer compromisso com ideias e teses de interesse do país; com a permissão de coligação nas eleições parlamentares que cria o absurdo do voto em alguém ser apropriado por outro, ainda que de outro partido; com a inexistência de nenhuma barreira aos partidos de aluguel; com os senadores suplentes, sem voto, que assumem e se mantém por anos, e muito mais.  Lutei pela reforma durante décadas, em vão.  Lula se omitiu durante oito anos, argumentando que reforma política não era problema do Executivo, mas do Congresso.  Dilma foi omissa e só com a crise acordou não porque a reforma se tornou premente mas porque poderia ser uma cortina de fumaça diante do seu desastre administrativo.

Uma reforma política é necessária e espero que possamos aproveitar o momento para realizá-la, para fortalecer a democracia.  Tudo feito com espírito público e responsabilidade. E atacar os verdadeiros problemas que afligem o povo.

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