Como previsível, o chefe do Ministério Público e o advogado de defesa disseram de José Dirceu coisas diametralmente opostas. Para um, é personagem capaz de tudo. Para outro, um político incapaz de todo. Incapaz inclusive de enxergar o que se passava ao redor.
As duas partes extraíram suas verdades de provas testemunhais. Um aproveitou os depoimentos que fazem de Dirceu um espertalhão indecoroso. Outro serviu-se daqueles que o transformam num descuidado fenomenal.
Para o procurador-geral Roberto Gurgel, vale o dito por pessoas como Roberto Jefferson: Delúbio Soares e Marcos Valério distribuíram verbas a petistas e aliados por ordem e sob supervisão de Dirceu.
Para o advogado José Luis de Oliveira ‘Juca’ Lima, Jefferson fez “um bom teatro”, Dirceu afastou-se “da vida do PT” ao assumir a Casa Civil de Lula, Delúbio agiu sozinho e Valério não tinha nada a ver com seu cliente.
A acusação realça favores prestados por Valério a uma ex-mulher de Dirceu. A defesa reconhece: um sócio do operador do mensalão comprou o apartamento da senhora. O Rural proveu-lhe um empréstimo e o BMG deu-lhe um emprego. Mas Dirceu não soube de nada disso.
No dizer de Gurgel, o mensalão chefiado por Dirceu foi “o mais atrevido e escandaloso caso de corrupção do Brasil.” Nas palavras do doutor Juca, “pedir a condenação de José Dirceu é a mais atrevida e escandalosa afronta à Constituição.”
É complicada, como se vê, a tarefa dos julgadores. Já ficara entendido que Lula “não sabia de nada”. Agora, sustenta-se que Dirceu também não soube. Não saber o que o tesoureiro do PT e seu parceiro estavam fazendo nos porões do condomínio governista é um embaraço menor para Dirceu.
Só o deixaria mal com os ex-liderados. A versão reforça o chavão segundo o qual os revolucionários ideológicos são patetas no exercício do poder. Melhor assim. Ao final do julgamento, quando tudo estiver esclarecido, o pior que se poderá dizer da reputação de Dirceu é que se tornou um monumental, um extraordinário, um fenomenal distraído.