Uma coincidência do destino levou num curto espaço de tempo dois dos mais expressivos nomes da história da imprensa e da comunicação no Brasil: Roberto Civita, diretor editorial e presidente do conselho de administração do Grupo Abril, e Ruy Mesquita, diretor do jornal “O Estado de S. Paulo”.
Não convivi com Ruy Mesquita, mas me lembro, ainda muito jovem, das referências que meu avô, Tancredo Neves, fazia à maneira inteligente e corajosa que o “Estadão” e o “Jornal da Tarde” encontravam para denunciar a censura da ditadura militar.
Eram usados trechos de “Os Lusíadas”, de Camões, e receitas de bolo, em substituição aos textos e fotos cortados pelos censores. Dessa forma, os leitores eram informados da violência que era praticada contra a democracia.
Embora pertencendo a gerações diferentes, tive o privilégio da amizade de Roberto Civita, um dos homens mais extraordinários que conheci.
Em nossos encontros, demonstrava uma crença sempre otimista em relação ao Brasil, mesmo diante dos grandes problemas estruturais e das mazelas da conjuntura política.
Registrei outro dia que Roberto Civita viveu e morreu sem perder a capacidade de sonhar com um Brasil investindo na educação de qualidade para que pudéssemos construir um futuro melhor.
Falava com entusiasmo sobre a importância da educação como espinha dorsal de um projeto de nação. De um lado, o esforço por parte do governo, em suas três instâncias, federal, estadual e municipal.
De outro, a responsabilidade das empresas. Defendia uma maior mobilização da sociedade que pudesse promover o grande e necessário salto do nosso sistema educacional. A implantação da nossa moderna indústria cultural está ligada à história da Abril.
Todos sabemos que há momentos na vida de um país em que a coragem pessoal de um homem pode fazer grande diferença. Roberto Civita levou ao extremo o seu compromisso e o seu amor pelo Brasil fazendo um jornalismo destemido, enfrentando interesses poderosos, não se submetendo a nenhum tipo de pressão.
A “Veja” –uma das maiores revistas semanais de informação do mundo, também censurada brutalmente no regime militar– foi trincheira da luta contra a ditadura e continua fiel ao compromisso de seu fundador: fazer um jornalismo a favor dos brasileiros.
As biografias de Civita e Ruy Mesquita se cruzam em diversos pontos, em particular na resistência ao arbítrio.
Eles são merecedores das justas homenagens prestadas nos dias recentes, às quais aqui me associo.
Felizmente, vivemos hoje numa sociedade consciente da importância de mantermos intactas as conquistas democráticas pelas quais tantos lutaram e, em especial, a plena liberdade de imprensa.