Bem tinha razão Delúbio Soares, quando, anos antes de ser condenado pela participação no mensalão, vaticinou: “Isso tudo vai acabar virando piada de salão”. Os mensaleiros, que começaram a se livrar da prisão, devem mesmo estar rindo à toa.
José Genoino tornou-se o primeiro deles a se ver livre da Justiça. O ex-presidente do PT cumpriu apenas um ano, um mês e dez dias de cadeia e anteontem foi contemplado, por unanimidade, com extinção da pena pelo STF. Livrou-se de gramar mais 40 meses de cana.
O ex-presidente do PT foi beneficiado por induto de Natal concedido milimetricamente sob medida para ele por Dilma Rousseff no ano passado. Pode, agora, fazer o que bem entender, exceto candidatar-se a algum cargo público. Condenado pelo STF por corrupção ativa, Genoino deveria cumprir quatro anos e oito meses de reclusão, mas não passou mais que algumas semanas na Papuda.
Assim como ele, todos os demais condenados do núcleo político da turma de mensaleiros já estão em casa, incluindo José Dirceu e Delúbio. O último a passar a cumprir prisão domiciliar foi João Paulo Cunha, ex-presidente da Câmara, beneficiado na semana passada.
No fim do ano, se as regras do indulto forem mantidas, todos poderão ganhar a mesma liberdade de Genoino. Certamente serão saudados pelos amigos petistas – cujas vaquinhas pagaram suas multas à Justiça – como heróis, como “guerreiros do povo brasileiro”.
Não eram poucos os brasileiros que sempre apostaram que o mensalão iria terminar em pizza. A suavidade com que a Justiça se abate sobre os mensaleiros dá razão ao ceticismo dos cidadãos quanto à aplicação da célebre máxima de que “quem deve tem que pagar”. Diante do mal que impingiu ao país, a turma da Papuda saiu no lucro.
A liberdade conquistada pelos mensaleiros chega na mesma hora em que o país se convence de que, sim, Delúbio tinha razão: perto do petrolão, o mensalão é mesmo fichinha, uma piada sem graça. Toda a soma de dinheiro movimentada para sustentar a base de apoio ao governo Lula no Congresso no petrolão fez a festa de apenas um dos envolvidos.
O que há de mais relevante é que ambos, mensalão e petrolão, constituem atos de um mesmo enredo: o do assalto do PT ao Estado. Um poderoso esquema que começou assim que Lula pisou no Palácio do Planalto e chegou até os dias atuais, sempre ganhando maiores dimensões. Milhões viraram bilhões.
Durante os debates na TV, a candidata Dilma costumava recitar um jogral ensaiado em que listava acusações de corrupção no governo Fernando Henrique e afirmava que os supostos envolvidos estavam “todos soltos”. A partir de agora ela pode – desta feita com carradas de razão – incluir os mensaleiros no seu teatrinho.