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Na contramão, análise do ITV

Na contramão do mundo, o Brasil teve ontem que aumentar sua taxa básica de juros. Foi o remédio amargo que restou à gestão petista como forma de sinalizar alguma preocupação com a inflação. Tímida, a elevação da Selic não deve ser suficiente para moderar a persistência da alta de preços no país.

O Comitê de Política Monetária (Copom) decidiu aumentar a taxa básica vigente no país em 0,25 ponto percentual, para 7,5% ao ano. É a primeira alta desde julho de 2011. A taxa vigorará até o fim de maio, quando, segundo preveem analistas, deverá voltar a subir, provavelmente para 7,75%. Há quem diga que a escalada só irá parar quando a Selic chegar a 8,5%, ainda ao longo de 2013.

Com a alta, o Brasil continuou a figurar entre os cinco países com mais altos juros reais do planeta, com 1,7% ao ano, atrás de Argentina, China, Rússia e Chile. Entre as 40 economias monitoradas pelo site Moneyou, 22 praticam taxa negativa. Na média, o juro real no mundo é hoje de -0,3%.

O Brasil se viu forçado a aumentar seus juros básicos no mesmo momento em que o mundo todo caminha na direção contrária: desde o fim do ano passado, nenhum banco central ao redor do planeta subiu sua taxa e oito a reduziram. É lamentável. Mas por que chegamos a esta situação?

O aumento dos juros tornou-se a única arma de que o governo petista dispõe para tentar controlar a ascensão disseminada dos preços no país. A gestão Dilma alimentou por muito tempo a sensação de leniência com a inflação, flertou com teorias furadas de crescimento econômico e desdenhou de medidas que poderiam ter minorado a alta dos preços e, consequentemente, tornado a elevação da Selic desnecessária.

Com estas atitudes, o governo petista permitiu que as expectativas quando à continuidade dos reajustes se disseminasse na população. Se o governo não consegue demonstrar que preza pela estabilidade da moeda, tão arduamente alcançada 20 anos atrás com o Plano Real, ninguém haverá de crer que os preços ficarão comportadinhos. O efeito manada detona reações em cadeia, do investidor ao supermercadista, passando pela dona de casa e a manicure. Neste ambiente, a inflação namora o risco de disparada.

Sendo realista, felizmente o processo inflacionário no Brasil ainda não resvala na ameaça de descontrole, que já se abate sobre países como a Argentina e a Venezuela – cujos modelos econômicos os petistas tanto amam adorar. Mesmo assim, exige combate decidido, convincente, claro do governo. Algo que não temos visto.

Há, além dos juros, alternativas para tentar segurar a inflação, mas todas são indigestas para um governo que só pensa e age eleitoralmente. É o caso da restrição ao crédito e da valorização do real.

Outras, a gestão petista não tem mostrado a menor capacidade de realizar, como é o caso da diminuição dos gastos da máquina pública – ao contrário, o que temos agora no horizonte é a possível redução do superávit fiscal deste e do próximo ano.

Empreender melhorias estruturais no país, então, nem pensar. Mudanças que reduzissem a carga tributária global e não apenas a de setores escolhidos; aperfeiçoamentos institucionais que destravassem negócios e implodissem a burocracia; recuperação imediata das condições de infraestrutura e logística? Com o PT, esquece.

Com a má condução do país, a gestão Dilma já colheu dois péssimos resultados na economia em seu biênio inicial, ombreando-se ao desempenho medíocre do governo Fernando Collor. Transformou o Brasil num caso ímpar na conjuntura internacional, com crescimento pífio e inflação elevada.

Neste beco sem saída, acuado pela inflação e com seus juros básicos em alta, o país pode agora ter que se deparar também com nova piora nas condições globais, para a qual o FMI alertou ontem e que também pesou na decisão do Copom. Se o vento já não era favorável, imagine agora… Com o PT, o Brasil parece estar sempre andando na direção contrária.

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