Nem sempre a imprensa consegue distinguir os fatos que deveria apurar dos argumentos que bailam em torno deles, frequentemente interessados. No caso das crises hídrica e energética, esta Folha, apesar de suas múltiplas vozes, confortou-se com uma ideia fixa: governos federal e estadual são igualmente culpados.
Infelizmente, por mais confortável que possa parecer a alguns editorialistas, colunistas e repórteres deste jornal, tal argumento enfrenta o obstáculo de fatos.
Há um ano, no dia 27 de janeiro de 2014, um comercial veiculado pela Sabesp informava: “O Sistema Cantareira está com o nível mais baixo dos últimos dez anos. A falta de chuvas em dezembro –o menor índice dos últimos 84 anos– agravou o problema, deixando o sistema com apenas 24% da capacidade.”
Foi o primeiro de vários. Em fevereiro de 2014, dois novos comerciais alertavam para o agravamento da crise e para a adoção de um bônus a quem reduzisse o consumo.
Em abril, mais dois filmes: um sobre a ampliação do bônus, que passou a valer em 31 municípios da Grande São Paulo; outro sobre esforços conduzidos para interligar bacias hidrográficas, trazer novas tecnologias e fazer avançar obras de captação e de produção de água.
Em maio, um novo comercial, acompanhado de um esforço didático sobre o uso racional da água, redobrava o alerta: “A chuva não veio. São Paulo vive a maior seca da sua história”.
Outras duas campanhas foram lançadas depois do período eleitoral (período em que, curiosamente, esta Folha confortou-se, passivamente, com o consenso inverso, igualmente enviesado, de que a crise era apenas hídrica e exclusiva de São Paulo).
Passado um ano do primeiro comercial da Sabesp, a dimensão nacional do problema foi escancarada por um apagão elétrico em 11 Estados da Federação e pelo agravamento da crise hídrica em Minas Gerais e no Rio. Ministros e agentes reguladores federais, sem abandonar o discurso hostil a São Paulo, passaram a exprimir um novo consenso, idêntico ao qual chegou esta Folha: o de que todas as crises e governos cabem num só saco.
O argumento deriva de certa covardia jornalística, de grande cinismo, e não resiste aos fatos. Até dezembro de 2013, nenhum estudo meteorológico previu a atual crise, muito menos a sua gravidade. Entre 2014 e 2015, no entanto, os fatos já estavam aí.
O Estado de São Paulo foi pioneiro no esforço de racionalização do uso da água, adotando o sistema de bônus e ônus antes de qualquer Estado. Interligou sistemas, aumentou a captação do Alto Tietê, do Guarapiranga e do Rio Grande. Iniciou obras estruturais e trouxe inovação –caso das membranas de tratamento da água de reúso, por meio da nanotecnologia. O que fizeram outros no mesmo período?
É óbvio que jornalismo a favor não existe. Se é a favor, não é jornalismo. Se é jornalismo, não é a favor. Essa é a mais pura verdade. Mas é jornalismo o ato de promover uma pancadaria contra autoridades filiadas a partidos eventualmente adversários simplesmente para realçar uma suposta neutralidade?
Creio ser a forma mais covarde de “jornalismo a favor”, pois pune quem age e beneficia quem se omite. Tratar igualmente os desiguais, numa espécie de jornalismo compensatório (de uma só via, é só checar), agride o fundamento da isenção porque agride a verdade.
A imprensa realmente isenta tem o rabo preso com os fatos, o que sempre será do interesse do leitor, do internauta, do telespectador, do ouvinte etc. O governo de São Paulo está fazendo a sua parte. A sua lista de ações é matéria de fato, não de opinião.
Diante da pior crise hídrica já registrada na história, o governo do Estado de São Paulo adotou desde janeiro de 2014, e continuará adotando, as medidas que forem necessárias em defesa de sua população.