“O pior cego é aquele que não quer ver” – encaixa-se perfeitamente na visão de alguns integrantes e seguidores do governo Dilma Rousseff, na avaliação que fazem das manifestações ocorridas no dia 15 de março, que mobilizaram cerca de 2,2 milhão de pessoas em pelo menos 160 cidades brasileiras.
Não se pode jogar pelo ralo uma mobilização desse porte, a maior desde a mobilização da campanha pelas “Diretas Já!”, com argumentos simplistas do tipo “terceiro turno”, “mídia golpista”, “retorno dos militares” ou outros refrãos vazios e sem conexão com a realidade que os brasileiros vivem nos dias de hoje.
Os brasileiros que ocuparam as ruas buzinaram ou bateram panela deram o seu recado claro e limpo, sem qualquer outro entendimento: Basta!
Basta de corrupção, basta de impunidade, basta de preços altos, basta de promessas eleitorais não cumpridas, basta de perdas trabalhistas (mudanças no seguro desemprego) e estudantis (alterações do FIES), enfim basta de tanta mentira na televisão, nos pronunciamentos e na propaganda oficial do governo.
Isso não quer dizer (e nem o PSDB prega essa matéria) que já chegou a hora do pedido de impeachment da presidente da República e nem que se pretenda tirá-la da cadeira principal do Palácio do Planalto à força e à revelia das leis e principalmente da Constituição.
O que mobilizou esses milhões de brasileiros foi a indignação e a consciência deles de que os maus políticos, a política e seus atuais governantes não têm o direito de roubar tanto, de mentir tanto e ainda se julgarem no direito de usar a rádio e televisão para tentar convence-los de que o errado está certo, de que o mal feito tem conserto com outro mal feito.
As pessoas também deram outro recado simples em relação às ruas e às cores que as enfeitam: a praça é do povo e ele gosta do verde e amarelo que, sem preconceito, é a combinação preferida dos patriotas e daqueles que querem um Brasil realmente mais justo.
Esse é o verdadeiro brado do povo brasileiro!
No fundo, no fundo, tanto o governo quanto o seu partido hegemônico, o PT, perderam a sintonia com as ruas. Se nos últimos anos esse partido se considerava “dono” delas, agora se intimida em ver a população tomar conta do asfalto, sem qualquer palavra de ordem previamente emanada de seus mentores, boa parte deles hoje em regime semiaberto, ou investigada por envolvimento com o novo escândalo do “Petrolão”.
A sensação de impunidade, que o fato de todos os petistas, condenados pelo escândalo do Mensalão, estarem soltos transmite, pode explicar o grito das ruas. As manifestações de junho de 2013 e as de 15 de março comprovam isso.
Felizmente, o povo brasileiro preferiu seguir as belas frases do escritor português, José Saramago, em seu livro “Ensaio sobre a Cegueira”: Se podes olhar, vê. Se podes ver, repara.
O atual governo prefere não enxergar e nem reparar. Segue o ditado, prefere ficar com as benesses do Poder e não “o pulsar das ruas”.
*Solange Jurema é presidente do Secretariado Nacional da Mulher/PSDB
Do site do PSDB-Mulher Nacional