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O problema não é só ‘vintinho’

Nesta quinta-feira, 13, completamos uma semana do início das manifestações em virtude do aumento na passagem de ônibus. E desde o começo ouvimos pessoas se manifestando a respeito e tentando diminuir a importância falando “tudo isso por conta de R$ 0,20?”.

O problema realmente não são as duas moedinhas de R$ 0,10 a mais. O problema está muito além da qualidade do serviço e na falta de fiscalização por parte da Prefeitura. Está bem além do valor do subsídio altíssimo que nós paulistanos já pagamos pelo serviço de ônibus e mesmo assim não funciona adequadamente. Quem mais sofre é a população que vive nas periferias da cidade, que hoje representa, segundo o IBGE, 70% dos paulistanos. E pergunto, onde o transporte realmente funciona? No centro, e parcialmente para os 30% que ali vivem.

Os ônibus que circulam na região central são os mais novos da frota, os pontos de ônibus são de vidro, bonitos e têm até bairros em que eles possuem a tecnologia Touch Screen – aquela dos smartphones mais modernos – e até os fiscais funcionam.
Já na periferia da cidade, a história é outra. Lá os ônibus estão sempre atrasados, lotados, velhos e com os motoristas e cobradores cansados pela estressante jornada e por isso muitas vezes mal educados; nem vou entrar na seara das lotações, onde o desrespeito é atroz.

Mas voltando aos R$ 0,20, percebemos que o ônibus, que hoje transporta cerca de 9 milhões de pessoas por dia, não está sendo pensado para comportar a pressão do crescimento de 3% ao ano da população periférica. O resultado desse processo é o que se observa com os dados da SPTrans, a empresa que faz a gestão das 1.314 linhas municipais: para chegar aos pontos mais distantes do centro, perdem-se no trajeto até duas horas e quarenta minutos sacolejando no ônibus. É o preço do isolamento que as classes mais pobres pagam hoje.

Mas a vida ultimamente tem sido assim mesmo, rica em críticas, e pobre em ações concretas que melhorem a vida da população. O prefeito do PT, por exemplo, veio a público para dizer que aumentou o subsídio que a Prefeitura paga às empresas de ônibus. Foi de R$ 330 milhões para R$ 821 milhões. Oras, se nós cidadãos paulistanos já pagamos o subsidio em forma de impostos, por que temos de pagar R$ 0,20 a mais por viagem e ficar quietos?

E não adianta vir falar que sou a favor do vandalismo do bem público ou privado porque não sou. Como o governador Geraldo Alckmin disse, depredar é vandalismo, porém, manifestar-se é legitimo. Convenhamos que queimar ônibus, que já não são suficientes para atender a todos, e quebrar avenidas e estações de metrô não resolvem mesmo o problema – só nos traz outros e aumentam a conta que temos que pagar. Mas por que ficar quietos? Costume? Só por que o povo Brasileiro é conhecido como pacifista? Pacifista até vai, mas tem que ser burro e não saber fazer conta? Não, né?

Quer ver um exemplo de que os governantes petistas acham que o paulistano é burro? Ontem a prefeita em exercício, Nádia Campeão, foi à TV para falar que: “a Prefeitura está disposta a dialogar, mas eles não querem”. Oras, mas se quer dialogar por que não faz honestamente? Por que não propõe então o aumento gradativo vinculado a metas bem claras de melhorias no serviço? Isso sim é prestar serviço a população, isso sim é querer dialogar. Aliás, por que não dialogou antes de fazer o aumento sem investimento adequado e fiscalização dos ônibus? E será que a prefeita ou mesmo o prefeito andam de ônibus para entenderem a revolta? Agora fica a pergunta de R$ 1 milhão de dólares: será que a prefeita, que é o PCdoB, está contente com a depredação do patrimônio público que está sendo feito pelo grupo “Passe Livre”? Que por sinal possui integrantes do partido dela. Sei não!

O que a Prefeitura do PT precisa entender é que a população que vive nas extremidades da cidade não quer só comida. E não querem serviços mais ou menos. Os mais velhos podem até ter aceitado serem acantonados, por não terem tido escolha. Os jovens não estão dispostos a repetir essa história. Querem transitar livremente pela cidade. Querem viver a cidade. Querem poder entrar e sair em um tempo justo e usufruir de um serviço coerente ao valor pago por meio da tarifa. E estão cansados de serem ignorados por nossos governantes, que os expulsam para o extremo da cidade, onde não há a mesma oferta de diversão e cultura como no centro – e quando tem é meia boca. Quando colocam algo é sempre aquela diversão que o povo do centro não quer mais usar, é sempre o velho, o quebrado, o “meia boca” e onde o transporte público é um lixo.

E os R$ 0,20 centavos de aumento no ônibus ganha essa dimensão porque é parte direta deste problema. Por que R$ 0,20 centavos por viagem faz sim diferença no final do mês.

Igor Cunha é presidente da Juventude Municipal do PSDB-SP

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