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O perigoso jogo da presidente

Uma coisa não se pode negar nesse governo federal: a criatividade. Ainda agora, depois de manter o preço dos derivados de petróleo estagnado por vários anos, determina à Petrobrás um reajuste que provocará uma variação positiva no índice de inflação, igual à variação negativa obtida com a operação de diminuição das tarifas de energia elétrica. Vale dizer, o impacto na inflação da energia elétrica vai ser compensado pelo impacto da gasolina e diesel, dando resultado neutro.

Percebam que tudo isso foi milimetricamente pensado. As tarifas de energia elétrica – já se tinha constatado – estavam acima do que as concessionárias deveriam cobrar dos consumidores, por omissão criminosa da ANEEL ( que virou um aparelho de partido político ). As empresas deveriam devolvê-las aos consumidores. Além disso, o prazo de vigência das concessões, em muitos casos, está se encerrando o que obrigaria o governo a realizar novas licitações.

No caso dos derivados de petróleo, a Petrobrás já os estava importando ( as previsões de produção nacional que o Lula divulgava não se realizaram ), com um prejuízo de cerca de 2 bilhões de dólares por mês por estarem os preços internos congelados. Assim sendo a Dilma não tinha como não autorizar aumento de preços, com repercussão sobre a inflação, que já está crescendo além do esperado pelas autoridades. Ainda assim, com o reajuste, a Petrobrás terá um prejuízo mensal de 1,2 bilhões de reais.

Qual é o jogo maroto? Ao invés de obrigar a devolver dinheiro cobrado a mais nas contas de energia elétrica e realizar as novas licitações, Dilma concede prorrogação das concessões com tarifas mais baixas que as praticadas e, concomitantemente, permite à Petrobrás o reajuste dos preços. O resultado é que, quanto à inflação, o impacto será neutro ( segundo estudos da FGV ). Quanto ao desgaste político provável, será bem menor, já que o aumento inevitável da despesa com a gasolina e o diesel é compensado com a diminuição na conta de energia elétrica. E pode cantar de galo por aí, não se envergonhando em dizer (na visita ao Nordeste), depois de 10 anos no poder, que o problema no setor elétrico é responsabilidade do ex presidente FHC.

Depois da criativa contabilidade da Fazenda para justificar o não cumprimento da meta de superávit primário, não contando despesas de investimentos realizadas e somando nas receitas recursos do Fundo Soberano criado não para isso, passou a atuar sobre o câmbio para que os preços dos produtos importados ajudem a conter a inflação. Nesse quadro de medidas ao sabor do momento, voluntariosas, os investidores se sentem perdidos não tendo segurança sobre os resultados de seus eventuais investimentos.

Sempre de olho nas eleições de 2014, Dilma vai promovendo um verdadeiro samba do crioulo doido, empurrando para frente a solução efetiva de questões muito sérias que podem nos colocar em dificuldades no futuro. Um perigoso jogo que faz com milhões de brasileiros.

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