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O reino da sucata, análise do ITV

A primeira prévia oficial de quão ruim foi o desempenho da economia brasileira em 2012 foi conhecida na sexta-feira. A indústria nacional terminou o ano com desempenho sofrível, no nível mais baixo desde o auge da crise mundial, em 2009. Se algo não for feito para recolocar o país nos trilhos corretos, em breve seremos o reino da sucata.

Segundo o IBGE, a produção industrial caiu 2,7% no ano passado. A indústria brasileira naufragou em bloco. Foi uma queda generalizada, registrada em todas as categorias de produtos (bens de capital, duráveis, de consumo e intermediários) e em 17 dos 27 setores pesquisados.

O mais grave é o que acontece com o segmento de bens de capital, ou seja, a fabricação de máquinas e equipamentos. Este foi o setor com o pior desempenho no ano passado, com redução de 11,8% na produção, também a menor marca desde 2009. A produção destes itens caiu ao nível de meados de 2007.

Tamanha baixa projeta dificuldades à frente para a economia brasileira, uma vez que sinaliza pouco apetite dos empresários para realizar novos investimentos. Sem que seja despertado o “espírito animal” dos empreendedores, a retomada do crescimento do PIB neste ano fica perigosamente comprometida.

Esta é uma situação que já vem de longe. A produção dos bens de capital cai de forma seguida desde setembro de 2011, ou seja, há 16 meses consecutivos. Isto significa que, dada o paradeiro geral e a concorrência dos importados, o empresário brasileiro não tem se animado a fazer novos investimentos para atender a demanda interna.

Numa palavra, falta confiança na saúde da economia brasileira e na competência do governo petista para tomar as iniciativas de que o país precisa. De pouco adianta reduzir juros, ampliar crédito e baixar impostos (mas só para setores eleitos), se as condições gerais para produzir continuam ruins.

“Os investimentos não têm sinais de retomada. É um início de ano bastante preocupante”, adverte Silvia Matos, da Fundação Getúlio Vargas. “O cenário ruim está bem disseminado”, admite o gerente da Coordenação de Indústria do IBGE, André Macedo – ambos ouvidos por O Estado de S.Paulo.

Quando o IBGE divulgar as contas nacionais de 2012, o que está previsto para ocorrer em 1° de março, deverá ser constatado que a chamada formação bruta de capital fixo, ou seja, os investimentos, cai há seis trimestres consecutivos. Miriam Leitão também mostra que a utilização da capacidade instalada do país para produção de máquinas está no nível mais baixo em 40 anos e o déficit comercial do setor continua altíssimo: US$ 16,9 bilhões.

Outra face da mesma moeda da fraqueza da indústria nacional e das dificuldades da economia brasileira são os resultados da balança comercial. Também na sexta-feira, o governo federal divulgou que janeiro registrou o maior déficit mensal da história, de US$ 4 bilhões. Até então, o pior resultado tinha sido o de dezembro de 1996, com saldo negativo de US$ 1,8 bilhão.

As estatísticas foram distorcidas pela contabilização tardia de importações feitas pela Petrobras ainda no ano passado: US$ 1,6 bilhão foram registrados em janeiro e outros US$ 2,9 bilhões ainda serão computados nos próximos meses. A mesma manobra já havia ajudado a evitar que o superávit comercial de 2012, de US$ 19,4 bilhões, fosse ainda menor.

Entretanto, mesmo sem o efeito Petrobras, o Brasil teria registrado importações recordes para janeiro, com alta de 5,5% sobre o mesmo mês do ano anterior. Incluídas as operações da estatal, na mesma base de comparação as importações brasileiras subiram 14,6%, para US$ 20 bilhões, e as exportações caíram 1,1%, para US$ 16 bilhões.

Tanto o desempenho da indústria quanto os resultados da balança comercial indicam que o produto nacional encontra sérias dificuldades para competir com os artigos importados, que, livres do custo Brasil, entram com força no mercado local.

O desafio é recuperar a competitividade do produto brasileiro, dando-lhe condições de concorrer não só aqui como em qualquer parte do mundo. Mas, apesar das promessas, o governo Dilma Rousseff não tem conseguido cumprir esta agenda a contento. Em parte porque há resistências ideológicas à maior participação privada nos investimentos, em parte porque falta competência para tirar projetos do papel. Se demorar demais, vai tudo enferrujar.

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