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Olha a inflação aí, gente!, análise do ITV

Se a luz amarela já estava acesa há tempos, agora soaram todas as sirenes. A inflação deu mostra, mais uma vez, de que está com seu bloco na rua. Como se fosse um folião, o governo brinca com o dragão. O país corre risco de pôr a perder a sua maior conquista recente: a estabilidade da moeda. É mais uma das fanfarronices do PT.

O IBGE informou ontem que a inflação de janeiro foi a mais alta para o mês desde 2003, ou seja, em dez anos. Em 12 meses, o IPCA acumula elevação de 6,15%, já bem perto do limite superior da meta estipulada pelo Conselho Monetário Nacional para o ano (6,5%). Em janeiro de 2012, este indicador estava em 6,22%, o que mostra que passou um ano e o governo não conseguiu domar a escalada.

Os aumentos atuais prejudicam especialmente os mais pobres, são mais fortes nos alimentos (11% em 12 meses), mas estão se disseminando por quase toda a cesta de produtos. Com a luz vermelha acesa, cresce a possibilidade de o Banco Central aumentar os juros e dificultar, ainda mais, a retomada do crescimento do PIB.

Os preços dos alimentos estão pela hora da morte. Segundo o IBGE, produtos como a farinha de mandioca mais que dobraram de preço nos últimos 12 meses. Outros como batata e tomate também tiveram altas expressivas: 67% e 31%, respectivamente. Mas os aumentos não se limitam à comida: de cada quatro produtos, três ficaram mais caros, ou seja, 75%, em janeiro. Em situações consideradas “normais”, este índice não passa de 60%.

A corrosão nos salários é muito maior do que revela a inflação oficial. Anteontem, o Dieese já havia mostrado que em janeiro a cesta básica continuou subindo muito. Há casos como os de Salvador, com alta de 17,85% – num único mês! Em quatro das 18 capitais pesquisadas, o reajuste ficou acima de 10%. Resta claro que as labaredas da inflação estão se espalhando.

“O sentimento entre os especialistas é de que o país está prestes a entrar em um quadro de descontrole de preços”, sustenta o Correio Braziliense. “Embora o governo sustente que ela [a inflação] está sob controle, os riscos não são desprezíveis”, ratifica, no Valor Econômico, a colunista Claudia Safatle, interlocutora privilegiada das autoridades oficiais. “A situação não é confortável”, admitiu Alexandre Tombini, presidente do BC, a Miriam Leitão.

O temor se justifica: o PT não morre de amores pela austeridade e, historicamente, sempre tratou a inflação como mal menor. Nos dez anos em que está no poder, apenas em três ocasiões logrou respeitar a meta estipulada pelo CMN: em 2006, 2007 e 2009. Há três anos consecutivos, o objetivo não é cumprido, não o será neste ano e possivelmente sequer em 2014.

O descontrole de agora decorre de erros da política econômica posta em prática pelo PT nos últimos anos. As ações do governo, seja o de Lula, seja o de Dilma Rousseff, foram todas voltadas a incentivar a demanda, enquanto a oferta não apenas não crescia como também enfrentava dificuldades ascendentes – como custos em escalada, escassez de mão-de-obra e infraestrutura insuficiente.

“Ao longo de 2012, o governo fez um diagnóstico equivocado, de que o maior problema da economia fosse consumo insuficiente. E fez de tudo para inflar a demanda”, analisa Celso Ming n’O Estado de S.Paulo. Os explosivos gastos do governo ajudaram a piorar a situação, com alta de 11% num ano em que o PIB só terá crescido 1%.

O Brasil já tem hoje uma das seis maiores taxas de inflação do continente, perdendo apenas para Uruguai, Nicarágua, Haiti e os imbatíveis Argentina e Venezuela, segundo o UOL. Será que é nestes exemplos que o governo petista se espelha? Diferentemente da maioria dos demais países latino-americanos e em desenvolvimento, contudo, nossa economia cresce pouco.

Não fossem alguns malabarismos, a inflação brasileira estaria em situação bem pior e, provavelmente, já teria até furado o teto da meta. A redução das tarifas de energia elétrica ajudou, mas, não tivessem os governos de São Paulo e Rio postergado o reajuste dos transportes públicos, ela teria sido simplesmente pulverizada. Falta apenas apelar para o congelamento, como fez Cristina Kirchner…

Agindo assim, manobrando ao deus-dará, o governo brasileiro mais parece aquele tipo de sujeito que entra no cheque especial e tem que sacar seu fundo de aposentadoria para pagar as contas. O PT tem feito muito mal ao país. Mas nenhum deles será tão ruim quanto a perda da estabilidade da moeda, tão duramente conquistada pela sociedade brasileira. Com isso não se brinca. Nem no Carnaval.

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