A Operação Lava Jato completou nesta segunda-feira (17) oito meses. Foi deflagrada pela Polícia Federal para desbaratar um esquema de lavagem de dinheiro administrado pelos “principais personagens do mercado clandestino de câmbio no Brasil”, que teriam movimentado cerca de R$ 10 bilhões. Entre eles estava o doleiro Alberto Youssef, detido no Maranhão.
No mesmo dia, a PF cumpriu mandado de condução coercitiva do ex-diretor de Abastecimento da Petrobras Paulo Roberto Costa, que entrou no rol de suspeitos por ter recebido um carro de Youssef. Na ocasião, o ex-diretor prestou esclarecimentos e, em seguida, foi liberado.
Três dias depois, a Justiça determinou a prisão temporária do ex-diretor, que, segundo as investigações da PF, estaria destruindo, com ajuda de familiares, documentos na empresa que abriu após deixar a Petrobras. Na busca realizada na residência de Costa, agentes apreenderam ainda R$ 700 mil e US$ 200 mil, além do carro dado de presente pelo doleiro.
Costa chegou a ser solto por determinação do ministro Teori Zavascki, do Supremo Tribunal Federal (STF), em maio, mas voltou no mês seguinte à carceragem da PF em Curitiba, no Paraná. No entendimento da Justiça, ele poderia fugir do país, já que mantinha ocultos US$ 23 milhões em contas na Suíça.
No fim de agosto, o ex-diretor firmou um acordo de delação premiada com o Ministério Público Federal e revelou os detalhes do esquema criminoso montado na Petrobras. Em depoimento prestado à Justiça, em audiência pública, ele ainda apontou alguns dos personagens do enredo, como o tesoureiro do PT, João Vaccari Neto, e o ex-diretor de Serviços Renato Duque.
De acordo com Costa, 3% do valor líquido dos contratos de todas as diretorias da Petrobras abasteciam os cofres petistas e de aliados. Na área comandada por ele, o percentual era dividido entre o PT (2%) e o PP (1%), partido que o conduziu ao cargo. Nas demais diretorias onde o PT havia indicado o titular – Exploração e Produção, Gás e Energia e a de Serviços –, os 3% eram integralmente para o cofre petista.
No fim de setembro, foi a vez de Youssef celebrar um acordo de delação premiada e revelar a engrenagem da operação que envolvia empreiteiras, lobistas, agentes públicos e políticos.
As revelações subsidiaram parte dos desdobramentos da Lava Jato e culminaram na prisão de Renato Duque e altos executivos das maiores empreiteiras do país na sexta-feira (14).
Pasadena – Na época em que foi preso pela PF, Costa já vinha sendo investigado pelo Ministério Público Federal no Rio de Janeiro por supostas irregularidades cometidas na compra da refinaria de Pasadena (EUA), em 2006, pela qual a Petrobras desembolsou ao todo US$ 1,249 bilhão. Até 2013, a companhia investiu US$ 685 milhões para manter a unidade em funcionamento.
A polêmica aquisição, mostrou matéria do jornal “O Estado de S.Paulo” de 19 de março deste ano, contou com o aval da presidente Dilma Rousseff, que, em 2006, presidia o Conselho de Administração da estatal. Confrontada pela imprensa, a petista informou, por meio de nota, que se baseou num relatório “técnica e juridicamente falho” elaborado pela diretoria Internacional da empresa.
A versão de Dilma foi confirmada pela presidente da estatal, Graça Foster, mas negada pelo ex-presidente da Petrobras, José Sérgio Gabrielli, e pelo ex-diretor da área Internacional Nestor Cerveró. Ambos defenderam reiteradamente a negociação.
O rumoroso caso de Pasadena se junta a vários outros escândalos protagonizados pela Petrobras desde a chegada do PT ao Palácio do Planalto e que, gradualmente, vêm ocupando as editorias de polícia dos grandes veículos de comunicação. Entre eles, a construção superfaturada da refinaria Abreu e Lima, em Pernambuco, e do Complexo Petroquímico do Rio de Janeiro (Comperj).
Sem contar as irregularidades cometidas por funcionários da Petrobras em contratos firmados com a companhia holandesa SBM Offshore, confirmadas pelos representantes da própria ao Ministério Público da Holanda. A estripulia, realizada também em operações feitas em Angola e Guiné Equatorial, custará à gigante o pagamento de US$ 240 milhões.